Às margens de um porto, uma mulher se atira deliberadamente ao mar, sendo de imediato socorrida pelos trabalhadores nas proximidades, os quais ignoram sua oposição à ajuda. Um homem, passando pelo local após seu desembarque de uma cansativa travessia pelos mares orientais, comenta que ela “deve ter tido cãibras”. Seus destinos logo se entrecruzarão conformando um romance tortuoso em que a empatia e a tolerância serão fundamentais para seu desenlace. Estamos diante de Porto, um dos filmes seminais do genial Bergman.
A jovem que tentara o suicídio chama-se Berit, moradora de uma cidade provinciana e cuja relação com a mãe é sufocante. Com um emprego miserável e o estigma associado à tentativa frustrada de suicídio, sua vida vai de mal a pior, condição amplificada pela vigilância constante em casa. Sua mãe busca confiná-la às suas vontades através de um relatório que precisa encaminhar à casa de assistência onde a filha estava internada – e para onde, a depender do relatório, pode voltar. Elas não se entendem. Berit anseia pela liberdade, consternada com as prisões da vida, seja as visíveis, sejam as invisíveis. Por seu espírito rebelde e contestador, é vítima das modelações e ofensas da moralidade tacanha da pequena região.
O vazio na vida da protagonista é ocupado após conhecer e se relacionar com Gösta (Bengt Eklund), com que mantém uma intimidade tortuosa pelo ciúme despertado em outros homens que a desejam e julgam-na “fácil” e pelo passado que Berit omite do namorado. Eles se desentendem constantemente, apesar da atração e apego que nutrem um pelo outro.
No geral, Porto retrata a força das convenções morais sobre as paixões e atitudes individuais e o desejo de se desgarrar dessa força. De alguma maneira, lembra um clássico da mesma década, Como Era Verde Meu Vale, obra de John Ford onde a liberdade e a paixão são duramente cerceadas pela moralidade social.
Como algo que percorre as obras do diretor sueco, o sentido da existência é retratado fortemente aqui, valorizando a ideia de que uma vida completamente constrita pode ser ressignificada por meio do amor.
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