Galo de Briga acompanha Frank Winslow, um homem que dedica a vida a treinar galos de briga para competição em rinhas violentas, a fim de alcançar um título que lhe escapou das mãos há tempos atrás. Frank traz consigo características únicas que lhe torna, talvez, o personagem definitivo de Monte Hellman, por mais que este não seja seu filme máximo.
Primeiramente, quem dá vida a Frank é Warren Oates, ator marcante na carreira de Hellman, e aqui alcança o ápice em sua arte, atuando, na maior parte do tempo, sem pronunciar uma única palavra, isso, pois seu personagem fez um voto de silêncio até vencer a próxima edição do torneio do ano. E ao longo de todos os acontecimentos, só o ouvimos através de flashbacks e narrações em off. Fora isso, este silêncio é o que toma conta do personagem e representa o vazio em que ele permanece ao abrir mão de todos a sua volta. Mas este vácuo não está relacionado ao seu modo de vida opcional, na verdade isto o preenche, o que lhe esvazia é a ausência do objetivo que ainda não fora alcançado, o que significa que Frank precisa obtê-lo para sua vida fazer sentido, e dentro do contexto da historia, voltar a falar. Nesse sentido tudo se encaixa.
Dessa maneira vemos o porquê dele ser o grande personagem de Hellman, tudo nele é o diretor puro. A busca constante, vazia, o próprio silêncio pertence aos filmes do diretor, o desapego. As temáticas se relacionam fielmente. O diretor foca seu olhar na jornada e não no objetivo, o que lhe interessa a todo o momento é analisar a mente e as atitudes de Frank e nos imergir em seu silêncio enigmático que estranhamente é o responsável por ele se manter na linha ao mesmo tempo em que o afunda em suas intenções.
Galo de Briga trata-se de redenção através da jornada, é sobre a busca individual e tais individualidades. O silêncio ainda abrange a desnecessidade de saber algo sobre o que aquele homem quer alcançar, pois num filme sobre a busca de cada um, não importa o que esteja perseguindo, esta é sua busca, é seu. O que nos remete à busca de Frank, ele está inserido naquele universo, de briga de galos, o que não precisa fazer um sentido concreto para nós, pois aquele é seu mundo, sua jornada individual.
Ao mesmo tempo em que o animal, o galo, retratado não é necessariamente usado para manter um paralelo entre o ser - humano, por mais que esta interpretação seja cabível, o ponto é que aquele ambiente poderia ser qualquer um dentro das propostas de Hellman. Na verdade o maior efeito do animal em cena, é o de representar um submundo que é mantido escondido atrás de uma sociedade moldada e idealizada.
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