O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é excepcional, superou minhas expectativas, que haviam sido diminuídas devido a algumas críticas. Bem, primeiramente, deve ficar claro que, apesar de se incluir no mesmo universo fantástico, o estilo de narrativa de O Hobbit é completamente diferente de O Senhor dos Anéis, e creio que esse foi o erro de muitos, foram ao cinema esperando ver um novo Senhor dos Anéis.
O livro O Hobbit, escrito em 1937 (e portanto, antes de ser redigido O Senhor dos Anéis), é um livro infantil, uma história completamente despretensiosa, que não tem o objetivo ou a pretensão de ser um épico grandioso ou algo do tipo. Começa como um simples conto de fadas, bobo e divertido, uma história simples, de pouca profundidade na personalidade e motivações dos personagens, estrutura básica (uma situação de perigo atrás da outra), até mesmo na geografia (o percurso que a companhia de Thorin percorre é praticamente em linha reta), e a atmosfera inicial é também mais descontraída e alegre. Enfim, pode-se perceber que é raso e simples, o que não significa que seja ruim, pelo contrário: a forma fantástica com que ele descreve e desenvolve a aventura é cativante e extremamente divertido. Todavia, o livro vai ganhando intensidade ao longo da narrativa, e o clima leve e alegre vai gradativamente sendo substituído por outro, mais sombrio, tenso, e também mais épico, aproximando-se assim do estilo comum de Tolkien, no qual perigo, tragédia e grandes batalhas são elementos constantes.
Desse modo, a primeira parte da trilogia O Hobbit consegue muito bem capturar essa aura mais descontraída presente no início do livro, e mesmo assim manter a seriedade, e mais, transforma a aventura de Bilbo, encaixando-a num problema mais amplo da Terra-média e tornando-o mais épico e grandioso, assim como foi a trilogia Senhor dos Anéis, e afastando-se do livro nesse ponto. Mas como ele conseguiu isso, ampliar os horizontes da história presente no livro? Aqui entra o mérito de Peter Jackson.
A adaptação do livro é genial, e o ponto principal de todo o sucesso. Jackson manteve a essência do livro, mas melhorou a narrativa, desenvolveu melhor os personagens, ampliando-os em seu propósito e objetivos, e expandiu o Universo de Tolkien e da Terra-Média, ao acrescentar personagens e subtramas (que se revelarão maiores nos próximos filmes), presentes nos apêndices de O Senhor dos Anéis (parte do complexo e intrincado processo criativo de Tolkien), dando assim um grande presente para os fãs da literatura de Tolkien (eu me incluo aqui). Fazendo isso, ele encaixa na história de O Hobbit outra trama (a questão do Conselho Branco e do Necromante, o que restou do espírito de Sauron, que tenta se reerguer na antiga fortaleza abandonada de Dol Guldur), acrescenta personagens (tanto vistos em Senhor dos Anéis quanto presentes apenas nos apêndices, e aqui se inclui o orc Azog, suprimindo outro problema no livro, que era a falta de um bom vilão), posiciona a narrativa num contexto mais amplo na Terra-Média, e constrói uma ligação forte com a trilogia O Senhor dos Anéis, tornando-a parte integrante desta, o que mostra a real intenção de Jackson: concluir uma hexalogia.
Quando disse que desenvolveu e ampliou os personagens em seus propósitos, esse talvez seja o maior acerto de Jackson, pois ao mesmo tempo em que faz de Thorin um personagem fantástico, também enobrece muito a história. No livro os anões querem apenas recuperar seu tesouro e se vingar do dragão Smaug. Aqui, eles desejam reaver sua terra Natal, o seu lar, Erebor - a introdução no início que mostra a glória e a queda de Erebor é simplesmente épica, uma das melhores cenas do filme sem dúvidas. E nesta cena mostra o povo de Durin (os anões) fugindo da destruição, antes um povo rico e próspero, agora nômades sem terra, retrata toda a Nobreza de Thorin, o príncipe e sucessor do Trono Sob a Montanha, e em seguida ele, de uma linhagem tão nobre, trabalhando como um mero ferreiro para sobreviver. E a cada martelada na bigorna sua feição demonstra uma determinação incalculável, uma vontade suprema de retomar tudo o que perdeu, e sua nobreza ainda está no coração, apesar das condições em que vive. Cena extraordinária. Outra cena que é uma das melhores é o flashback da batalha de Moria, na qual Thorin aparece mostrando sua coragem e espírito de liderança, enquanto luta contra Azog, capaz de gerar admiração em qualquer um. "Naquele momento eu vi alguém que eu poderia seguir, que eu poderia chamar de rei". Disse o anão Balin depois de contar essa história.
Essas cenas (e outras) fazem Thorin ser um personagem incrível, é claro que Jackson não conseguiu desenvolver tão bem os outros anões; isso seria uma missão impossível, o que esperavam? Que cada um dos 13 anões tivessem um monólogo de 20 minutos? Bilbo também está fantástico, Martin Freeman faz com que ele seja uma figura divertida, e frágil dentro daquela aventura cheia de perigos, mas que aos poucos ele vai demonstrando seu valor para os anões. E ainda têm mais dois filmes para vir, Bilbo ainda fará muitas coisas importantes na história. Outro importante aspecto de Bilbo é a motivação dele para ajudar os anões, algo muito bonito e nobre. Pois o que ele mais ama na vida é sua casa, o Bolsão, mas se dá conta de que os anões perderam sua casa, e por isso decide ajudá-los, por compaixão, mesmo tendo oportunidades para ir embora. E Gandalf, ah Gandalf! Incrivel, fantástico! Como Ian McKellen disse, e concordo com ele, Gandalf, o Cinzento é muito mais legal que o Branco, pois ele é mais humano, apesar de toda sua sabedoria e vivência (se não me engano uns 50 mil anos), ele tem medo, incerteza, dúvidas, e mesmo assim é fantástico, nas batalhas é um dos que se destaca, e muitas vezes é quem salva os anões dos apuros. Maravilhoso! Mas aí entra outro elemento que foi alvo de críticas: o Deus ex machina apontado por muitos, se é um defeito, é um defeito presente nos livros, e como já disse, o filme é extremamente fiel ao livro. Mas para mim não foi um problema, as saídas rápidas e milagrosas não chegam a ser tão inverossímeis, pois dependem da habilidade de algum personagem ou apoio em situações determinadas, ou é tão absurdo os elfos ajudá-los, sendo que eles estavam sendo guiados pelo Gandalf para Valfenda?
A parte técnica é absurdamente maravilhosa, impecável! Como era de se esperar, nesse quesito não tinha dúvidas que Jackson daria um show. As belíssimas paisagens, a fotografia, a trilha sonora soberba de Howard Shore (a canção dos anões, que depois se torna o tema principal do filme, é de arrepiar), os efeitos especiais monstruosos, tudo é fantástico, de encher os olhos, capaz de nos inserir no filme, de nos fazer sentir-se dentro da Terra-Média, tão bem construída e fantástica ela é no filme. Incrível, maravilhoso.
E os próximos filmes devem ser ainda melhores. Resta esperar até 2013.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário