22 anos depois de lançado “Os Incompreendidos”, marco da nouvelle vague francesa, a mulher do lado, o penúltimo filme de François Truffaut sintetiza todo o cinema autoral do diretor que dirigiu, produziu e escreveu o argumento. Como de costume, o amor é o mote principal do filme.
Estrelado por Gérard Depardieu e Fanny Ardant, o filme narra a relação amorosa entre Bernard (Depardieu) e Mathilde (Ardant), revivida oito anos depois, após Mathilde se mudar para a casa vizinha a de Bernard junto com seu marido, mais velho que ela, Philippe (Henri Garcin). Bernard é casado com Arlette (Michèle Baumgartner) e tem um filho, Thomas. A principio, Bernard tenta se afastar, mas inevitavelmente os dois retomam os laços amorosos, agora como amantes.
O filme se inicia com uma mulher falando diretamente com a câmera e por conseqüência com o espectador. Ela deixa claro que tal narrativa se desenrolará de forma trágica. Essa mulher é Madame Odile Jouve (Véronique Silve) dona do clube de tênis da cidade de Grenoble. Sua história adicionará toda uma carga dramática à relação entre Mathilde e Bernard. Ela é deficiente de uma das pernas, resultado de uma tentativa falha de suicídio, devido a uma relação amorosa também falha.
A historia é simples e batida, a do amor suprimido que retorna anos depois, dificultado pelo estado conjugal dos dois. Mais o diferencial esta na forma como Truffaut carrega essa historia, que de forma alguma se torna chata, caminhando para um excelente clímax. O longa conta com ótimas atuações em geral, com destaque para Fanny Ardant (lançada ao cinema por Truffaut) e toda a sua beleza hipnótica. A atriz imprime uma profundidade a sua personagem, transcrevendo para a tela toda a depressão, resultada do amor parasita dos dois.
Sim, o amor tira toda a sanidade de Bernard e toda a vida de Mathilde. É intenso! A ótima trilha sonora feita por Georges Delerue aliada a paisagem constantemente nublada da França transmite todo o caráter depressivo do amor de ambos.
O filme concorreu a dois prêmios César, de melhor atriz (Fanny Ardant) e atriz coadjuvante (Véronique Silver), não ganhando nenhum. Foi filmado em um mês e meio devido à agenda apertada de Depardieu e escrito especialmente para Ardant, paixão de Truffaut na vida real. Mesmo com o tempo apertado, o diretor transmitiu a pressão das filmagens para o filme e realizou uma ótima história sobre amor, que se não é nova, é diferenciada pela sua qualidade.
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