Procura-se entender por quais motivos a crítica cinematográfica de uma forma geral acaba demolindo alguns filmes e fatalmente privando o grande público de conhecer obras de conteúdo interessante que foge à mesmice e falta de criatividade atualmente existente no cinema.
Percebe-se que certos críticos desavisados e desinformados ou por se prenderem demasiadamente a questão dos imprescindíveis elementos de caráter técnico do cinema ou então por serem deterministas em relação a uma visão míope que reduz o argumento do filme a uma mera condição econômica de uma sociedade e dessa forma demonstram amplo despreparo ao analisarem uma obra contendo um assunto tão complexo e delicado como a modernidade e seus desdobramentos.
O filme intitulado “Amor Sem Escalas” também acaba sendo acometido pela praga das terríveis, infelizes e desastrosas traduções ou desleixos dos tradutores e isso gera outro fator que atrapalha os cinéfilos mais atentos a prestigiarem uma obra fílmica que traz em si questões tão conturbadas como as relações do agitado mundo moderno.
“Amor Sem Escalas” definitivamente não pertence ao típico gênero de comédia romântica de teor previsível e de final pateticamente previsto e nem tão pouco o inscreve na categoria dos dramas profundos ou apelativos.
A película do diretor Jason Reitman é sóbria e madura com uma abordagem que mescla um tom sereno e afetuoso com um ar melancólico e seco de um drama que flerta com a comédia não de estilo forçado e sim de caráter cáustico alcançado nuances de romantismo não no sentido meloso e estereotipado e sim encontrando uma ambigüidade ácida, cômica e dramática.
A atuação de George Clooney é extremamente segura e cada vez mais suas performances vão se consolidando e tornando-se mais convincentes e consistentes.
O protagonista vivido por Clooney é assaz e representa o ponto central do filme que desencadeia situações pesarosas, constrangedoras apesar de serem aparentemente engraçadas.
O personagem Ryan Bingham sintetiza de maneira simples, porém de conteúdo intricado que perpassa pelas frágeis relações de um mundo que se consolida pelo puro pragmatismo e suas escusas manobras que causam traumas indeléveis.
Há um sociólogo polonês chamado Zygmunt Bauman que considera “a modernidade líquida em que vivemos traz consigo uma misteriosa fragilidade dos laços humanos – um amor líquido. A insegurança inspirada por essa condição estimula desejos conflitantes de estreitar esses laços e ao mesmo tempo mantê-los afrouxados.”
Pode-se avaliar que a modernidade se constrói e se mantem exclusivamente do impulso do consumo e da procura incessante do sucesso instantâneo que alimentam a fogueira das vaidades da competição desenfreada e do status a qualquer custo e tais sintomas inserem-se até mesmo nas relações afetivas no campo do momentâneo.
Durante o decorrer do filme as relações afetivas e comercias se misturam entre o conceito de prático e descartável como funcionários, pessoas, profissionais, cartões magnéticos, mirabolantes planos de demissão, hotéis, celulares, carros, aviões e aeroportos sempre transmitindo o sentimento de transitoriedade e concomitantemente as frustrações das relações amorosas sentimentais, familiares, tênues laços que provocam a sensação ora de incapacidade e de inutilidade no aspecto humano e o profundo medo das relações mais intensas e estreitas.
No decorrer do filme conforme o argumento proposto pelo profissional Bingham numa palestra tudo depende do que você escolhe para levar na mochila, isto é, a escolha que o indivíduo faz é que determina o peso, o conteúdo, a praticidade e a importância da bagagem que cada um de nós opta por carregar no percurso da vida.
Considerando-se as questões e especulações sociológicas das relações afetivas atualmente percebe-se cada vez mais o impacto de um mundo globalizado e avançado tecnologicamente na vida tornando-a nesse cenário mais prática e funcional.
Nota-se cada vez mais a importância da profissionalização, da criação de novos planos e programas para consolidar carreiras, produtos e negócios.
Avalia-se a capacidade e a formação do profissional e seus domínios e habilidades envolvendo escolaridade, informática, experiência profissional e outros elementos indispensáveis para não só exercer as atividades esperadas, e não só atingir pontos e metas, mas principalmente alcançar a fusão de esforço e talento de criar e recriar idéias e atitudes.
Admite-se que o preparo, a formação, a técnica são pilares essenciais para um profissional, entretanto, o profissional e o humano são dois lados de uma mesma moeda.
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