Feitiço mágico do tempo, assim é Feitiço do Tempo: comédia fantosiosa estrelada por Bill Murray há quase duas décadas e que parece não envelhecer. Alcançando reconhecimento mundial no início da década de 80 com o inesquecível Caça-Fantasmas (Ghost Busters), Bill Murray é Phil Connors; um antipático repórter do tempo de uma pequena emissora de TV que é enviado para cobrir o festival do Dia da Marmota - que dá origem ao título Groundhog Day. Phil odeia este festival que antecede a chegada do inverno local na mesma proporção que detesta a pequena cidade de Punxsutawney, sendo obrigado a cobrir o evento ao lado de sua nova produtora de cabelos avolumados Rita, vivida pela encantadora Andie MacDowell e seu câmera Larry (Chris Elliot), ambos ignorados e ridicularizados por Phil. Devido a uma nevasca que pegou até o apresentador do tempo de surpresa, Connors fica impossibilitado de sair da cidade naquele fatídico dia 2 de Fevereiro, permanecendo no local e também na mesma data por mais tempo que se poderia imaginar.
O preço pago por Phil ao chegar à pequena cidade, muitos espectadores gostariam de custear: viver repetidas e incontáveis vezes o mesmo dia sem se importar com as consequências de seus atos no dia seguinte. O filme faz com que inconscientemente muitos se imaginem no lugar do personagem durante toda a projeção e até depois dela. O diferencial de Feitiço do Tempo está justamente em seu eficiente roteiro e na condução de sua história, que consegue criar novas e criativas situações sem soar cansativo ou repetitivo ao espectador, o que já é uma tarefa árdua. O cuidado com que as situações se repetiam é algo a ser destacado na ótima direção de Harold Ramis, bem como a atuação dos personagens que dividem o êxito da obra com a já destacada criatividade do roteiro. Para ilustrar o dia vivido por Connors, em um engraçado diálogo em meio a dois bêbados - que compõem um vasto elenco de bons coadjuvantes - ele lamenta o motivo de outros dias de sua vida não terem se repetido no lugar daquele; em especial na vez em que conheceu uma linda mulher e fizeram amor incansavelmente, demonstrando de forma cômica toda angústia do personagem em ver aquele dia em específico se repetindo.
Enxergando inicialmente o lado bom de viver sempre o mesmo dia aos poucos vamos percebendo a necessidade de Phil passar por todas aquelas situações, sendo impossível imaginar outro ator a vivê-lo que não Murray; que sem abusar de caras e bocas deu vida a um Phil Connors amargurado e sarcástico, atuando no ponto certo para a construção e total desconstrução do personagem. Nos momentos em que Phil utiliza o tempo ao seu favor é encontramos as melhores passagens do filme: os flertes em sua produtora que vão se aprimorando ao longo dos dias, e outras situações que acabam não se repetindo com a mesma naturalidade do dia anterior - que são hilárias pela força inútil do protagonista em tentar refazê-las premeditadamente. Isso ocorre porque tudo sempre acaba voltando ao normal pela manhã - se é que isso é normal em algum lugar - onde o protagonista é sempre acordado ao som da inusitada “I Got You Babe“ de Sonny e Cher, logo às 6 da manhã e que garante algumas cenas cômicas - a pertubação que a canção lhe causa é perfeitamente justificável, basta colocá-la um dia apenas no seu despertador para comprovar.
O diretor Harold Ramis, que junto com Murray ficou mundialmente conhecido com seus dois Caça-Fantasmas, conseguiu sua maior realização com Feitiço do Tempo; brindando o público com um filme definitivamente lindo em vários aspectos, fantasioso e com personagens carismáticos; com destaque para o vivido por Stephen Tobolowsky, que se encontra ocasionalmente com Phil todos os dias arrancando bons momentos, e do personagem vivido pelo velhinho Les Podewell; que apesar de pouco aparecer e nada falar é responsável por umas das cenas mais bonitas do filme. Outro ponto a ser destacado fica por conta das explicações dos eventos vividos por Connors que acertadamente não são explicados pelo diretor, além do não aprofundamento em questões complexas como suicídio, realidades paralelas e reencarnação; temas levantados e que fogem totalmente do propósito leve que o diretor apresenta à trama.
Por todos estes motivos considero Feitiço do Tempo um dos melhores filmes da década de 90, e o maior êxito da carreira do diretor, algo que ao longo dos anos vêm se comprovando. Mesmo não alcançando todo o reconhecimento de obras inferiores de sua época, o longa nos cativa a ponto de desejarmos estar na pele do próprio Phil Connors, por pelo menos um dia que seja; que por si só já poderia valer por toda uma vida. Filmaço!
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