Mike Nichols prova que ainda sabe fazer cinema como antigamente. Closer - Perto Demais é sensual, de ótimos diálogos e clima tenso.
Não que este "Closer" seja tão bom quanto o clássico das comédias românticas A Primeira Noite de um Homem mas vá lá. Mike Nichols se mostra um diretor tão competente como era na primeira vez que dirigiu um filme. Quem tem Medo de Virginia Woolf? se lembram? É um clássico do símbolo da ironia no cinema. Personagens marcantes do gabarito de Elizabeth Taylor e Richard Burton já trabalharam com ele. Dustin Hoffman em início de carreira também. Anne Brancoft, a "sedutora mulher mais velha", também já. Quem diria hein Natalie Portman? A jovem de beleza suave que rouba praticamente todas as cenas deste filme só não é TÃO boa quanto o até que experiente ator Clive Owen, de papel difícil. Mas Julia Roberts ainda não tinha tido o privilégio, apesar de ter repetido a dose no mais recente Jogos do Poder e nem o sedutor Jude Law ainda tinha tido a sua chance. Enfim, desta vez eles estão aí pra provar que nem todo elenco jovem é inexperiente, ou pelo menos não tão jovem assim. Por mais que sejam, não aparentam.
Quem poderia imaginar que Natalie Portman no auge dos seus 23 aninhos (na época) já tinha feito tantos filmes como Cold Mountain, dois episódios da saga de Star Wars: Episódio I e II - Ameaça Fantasma e Ataque dos Clones e até mesmo um filme de personagens fortes como O Profissional quando ela ainda tinha 13 anos? Pois é, experiência é o que não falta para o currículo de Portman, que ganha seu primeiro Globo de Ouro e recebe a sua primeira indicação ao Oscar. Clive Owen, apesar de seus 40 anos (e aparentar bem menos) fez, por incrível que possa parecer, menos filmes que Natalie Portman. Apesar disso, já havia feito filmes importantes, premiados, onde sua participação era de fato importante como o misterioso Assassinato em Gosford Park e até o corrido A Identidade Bourne, mas foi desta vez que ele conseguiu a sa primeiríssima e merecidíssima indicação ao prêmio do Oscar e o seu priemiríssimo e merecidíssimo troféu no Globo de Ouro. Julia Roberts porém, já é a atriz mais experiente da lista, com seu "homenzinho dourado" enfeitando a sua prateleira, e ainda outras duas indicações. Ela certamente é uma boa atriz, mas sua experiência é abatida pelo talento dos outros novatos. Jude Law poderia se incluir nesse grupo, mas no alto de seus 32 anos de idade, já havia sido indicado a dois prêmios no Oscar e já ter participado de vários e importantes produções como A.I. - Inteligência Artificial e o ótimo Estrada para Perdição. Enfim, por mais maturos, experientes ou justamente o oposto que o elenco seja ou não, o fato é que todos atuam muito bem em Closer - Perto Demais, sendo esse o principal trunfo que Mike Nichols usufrui em sua manga. O interessante é que um se sobressai ao outro, não havendo um equilíbrio correto entre uma interpretação e outra.
Podemos dizer, afinal que os melhores são justamente os indicados ao Oscar. Isso é certo afirmar pois, por mais que a Academia erre nos seus indicados, jamais cometeriam o erro de deixar Natalie Portman e Clive Owen de fora da premiação. São apenas coadjuvantes (apenas?), na verdade, todos são coadjuvantes em "Closer". A cada cena um tem o seu momento de protagonista, mas isso não quer dizer que sejam todos principais, uma vez que a história se baseia na interrelação e na formação de casais, às vezes, começando e terminando um relacionamento da maneira mais embaraçosa possível, regada a traições, mentiras, sexo e diálogos grosseiros e muito diretos. É tirada daí a essência do filme, essência que Nichols sabe usar e muito bem, como um ótimo diretor que é. Ele comanda tudo a ponto de fazer com que os acontecimentos tenham o seu início e o seu fim gerados em meio à bagunça de idéias e controvérsas, sem perder o ponto de vista de um outro núcleo, que se mistura com esse em um piscar de olhos sem você ao menos perceber. Mas você certamente notou agora como o enredo de "Closer" pode ser complexo, difícil ou mesmo desorganizado e sem nexo, confuso, ou se é essa crítica que te faz ficar confuso. Mas na verdade é esse o objetivo que Nichols e que roteiro formidável (péssima escolha de adjetivo) sob a autoria de Patrick Marber, que também é autor da peça teatral que deu origem ao filme, tentam passar, a sensação de confusão, que te deizem pelo menos pensativo. Faz você pensar nas atitudes, nas suas escolhas, e não no seu próprio nariz, mas também em um conjunto todo a sua volta. Faz você refletir também sobre a frieza do ser humano, a malícia, o jogo, apelando pro senso popular, o jogo da vida. Pode ser complexo demais, mas no fundo as reviravoltas da sua vida certamente te fariam pensar como os personagens de "Closer".
Este é sim, um filme diferente, mas nem por isso, pior do que poderia ser, caso seguisse a linha do comum. Muito pelo contrário, pouco se vê hoje em dia filmes deste porte emocional, de uma mistura de sentimentos que podem acabar gerando em atitudes as vezes impensadas, outras premeditadas, mas tudo acontece perante as suas escolhas, e talvez seja essa a mensagem (muito longe de ser batida e contada de forma completamente diversificada) que o roteiro de Marber tenta te passar.
Closer - Perto Demais é mais um grande filme de Mike Nichols, um filme pequeno, que chegou longe e é considerado por poucos, adorado por muitos.
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