Adaptação apressada e cheia de falhas de um dos maiores fenômenos da literatura dos últimos anos.
Os primeiros grandes trabalhos da carreira do diretor americano Ron Howard ajudaram o cineasta a se firmar na indústria cinematográfica de Hollywood. Filmes como 'Apollo 13' e a ótima comédia natalina 'O Grinch' serviram como preparação para os grandes trabalhos que Howard dirigiria nos anos seguintes. Foi com 'Uma Mente Brilhante' de 2001, que o diretor ganhou o seu primeiro e até agora, único Oscar e com 'A Luta pela Esperança' ele comprovou ser um cineasta de talento subestimado. É por esse 'O Código Da Vinci' que a competência de Howard é posta em dúvida. Um diretor capaz de dirigir com brilho a história de um maiores gênios matemáticos, o esquizofrênio John Nash, vencedor dom Prêmio Nobel 1994 e até mesmo façanhas espaciais de maneira muito fiel, não conseguiu comandar da mesma maneira uma adaptação de um dos livros mais importantes já lançados. Nesta produção, ambientada na capital francesa, os acontecimentos importantes são atropelados pelos inferiores e é tudo muito subestimado para chegar ao final e perceber que tudo o que o espectador mais esperava, poderia até ser uma surpresa, mas que com certeza não conseguiu captar a áurea que o livro traz ao leitor atento. Ou seja, um final abosolutamente surpreendente para o leitor, acaba virando algo previsível e decepcionante para o espectador. Essa é a prova de que deve-se tomar muito cuidado antes de adaptar uma obra muito complexa para o cinema.
Se recentemente o escritor português José Saramago divulgou dias após o lançamento da adaptação de seu livro 'Ensaio sobre a Cegueira' para os cinemas, sob a direção corajosa de Fernando Meirelles, que sua história era "infilmável", devido à ausência de personagens nomeados, locações e uma situação extremamente bizarra e aleatória, este 'O Código Da Vinci' corresponde à mesma característica do filme de Meirelles: "infilmável". A própria história do livro já merece um destaque especial desde o seu início e qualquer espectador que queira diversão e um filme leve deve descartar este de sua lista rapidamente. 'The Da Vinci Code' está longe de ser um filme fácil de ser acompanhado e muito menos um filme leve e divertido. História que mistura assassinato, controvérsias sobre os relatos bíblicos, propinas e chantagens, além de traição, cobiça e um segredo, que se não fosse o modo como o filme fora conduzido, poderia ter se saído muito melhor e o impacto que causaria seria muito melhor e pelo menos próximo ao que estava no best-seller. Robert Langdon (Tom Hanks) é um professor simbologista que fora acusado de matar um curador no meio do Museu do Louvre em Paris. Apesar de Langdon não ter assassinado ninguém, ele é obrigado a fugir junto com uma criptógrafa da polícia, Sophie Neveu (Audrey Tautou) pelo interior da França. Escondido e foragido da polícia, ele vai parar na "fortaleza" de Sir Leigh Teabing, onde começa desde cedo suas investigações. A partir delas, Langdon descobre inúmeras mensagens ocultas nas obras do renomado artista Leonardo Da Vinci, que inclui a existência de uma sociedade secreta que prima por guardar um segredo de mais de dois mil anos e que pode pôr tudo o que foi contado nas igrejas a baixo.
É preciso prestar o máximo de atenção nesta história, pois qualquer descontração pode atrapalhar todo o seu raciocínio. Eis o principal defeito do roteiro de Akiva Goldsman, que foi responsável pelo magnífico script de 'Uma Mente Brilhante' entre outros fantásticos trabalhos no cinema. Tudo neste filme é atropelado, um acontecimento em cima do outro, situações mal explicadas, uma lambança sem dó nem piedade. Lógicamente, são 149 minutos de pura desorganização, onde poucos momentos são bem aproveitados, mas não pelo o que acontece em cena em termos de história, mas sim pelas belas imagens francesas e da fantástica trilha sonora do compositor Hanz Zimmer. O roteirista Goldsman não soube aproveitar bem as deixas que o livro dá, mas vá lá, o livro de Dan Brown é tão difícil de ser compreendido lendo, o filme, obviamente, seria mais confuso do que se poderia esperar de uma adaptação. Mas a decepção principal vem por conta de Akiva, que eu julgo um ótimo roteirista mesmo depois desta fracassada tentativa de adaptar um best-seller de valor histórico.
Ron Howard também não facilita as coisas pro lado do espectador. O diretor não conseguiu transmitir o principal feito que Dan Brown escreveu em seu livro: o segredo final. Durante todo o livro, ficamos a pensar, refletir, procurando alguma pista do que poderia ser e a que tanto mistério foi necessário e no filme simplesmente não vemos nada demais a não ser uma deixa para sabermos que haveria um segredo ao final, que foi muito mal contado. Não causou impacto algum, já que tudo parecia irremediavelmente previsível à medida que a história ia se desdobrando.
Tom Hanks nunca esteve tão apático em um papel como agora. Sem sal como nunca havia visto o ator antes, Hanks simplesmente não deu certo como o simbologista Robert Langdon e ele está acompanhado de perto pela também inexpressiva atriz Audrey Tautou (que já fez um trabalho excepcional em 'O Fabuloso Destino de Amélie Poulain'). Mas também podemos dar uma amenizada na inexpressão do roteiro com um dos melhores atores que sobreviveu ao tempo e está agora atuando em vários filmes, atuando muito bem. É o caso do ator inglês Ian McKellen, que mostra seu lado intelectual e competente neste 'O Código Da Vinci'. Participações praticamente nulas de Jean Reno, Alfred Molina e uma até que razoavelmente boa de Paul Bettany são destaques tanto pela insuficiência, quanto pela mesmice.
Em termos técnicos, destacamos Hanz Zimmer e sua trilha forte e bela. Indicado ao Globo de Ouro, a trilha pode ser inclusive o único ponto realmente ótimo no filme e acompanha os momentos do filme com muita precisão e exatidão, parabéns mais uma vez para o compositor. A fotografia de Salvatore Totino também não faz feio com suas nuances brancas e negras, outras vermelhas e meio azuladas.
Tanto o livro quanto o filme foram corajosos por retratar uma história que vai contra as irmandades da Igreja. Mas, por incrível que pareça, toda a polêmica ao redor do quadro "A Última Ceia" de Da Vinci ainda deixou uma dúvida, será que havia realmente uma mulher naquele quadro? Seria Maria Madalena? A Igreja, se não fossem os tempos modernos, mandava Dan Brown e Ron Howard pra fogueira só por pensarem uma coisa dessas.
'O Código Da Vinci' merece atenção também e certo mérito, principalmente aos produtores, pois foram os primeiros a conseguirem a autorização do Ministério da Cultura francês a filmar dentro dos limites do Museu do Louvre em Paris, um dos mais famosos do mundo, se não o mais. Na verdade, quando os personagens de Langdon e Neveu estão dentro do Museu junto à imagem do quadro de Mona Lisa, foi usada uma réplica já que os produtores não conseguiram autorização para usa-la no filme. Na Catedral de Lincoln, onde algumas oytras cenas foram gravadas, o sino que badala de hora em hora ficou parado por quatro dias especialmente para as filmagens. A última vez que este sino parou de tocar foi durante a Segunda Guerra Mundial.
Pena que tanto esforço e dedicação por parte dos roteiristas renderam um filme tão inferior à obra original. Em 2009, 'Anjos e Demônios' estréia nos cinemas mundiais, mais uma vez com Tom hanks sob a direção de Ron Howard. Por enquanto, 'O Código Da Vinci' é visto apenas como uma adaptação que não deu certo, mas devido à complexidade da história, Akiva Goldsman tem um desconto. Ótima trilha e fotografia, o legal mesmo do filme são justamente as imagens do interior do Museu do Louvre e a narrativa que o envolve, embora que mal contada, é ainda assim, uma história interessante, que desafiou a Igreja e levantou a pior hipótese de todas, a mais assustadora.
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