Shyamalan entrega ao público mais um suspense de boa qualidade, que ainda com seus defeitos, é capaz de provocar tensão e excelentes cenas categóricas do diretor.
Fim dos Tempos é o típico filme que a crítica mundial cai em cima, e por ser inferior à obras-primas como O Sexto Sentido e A Vila, o público também cai matando. Afinal, o que se esperar de um filme do diretor americano M. N. Shyamalan, um dos mais conceituados cineastas do suspense na atualidade? Lógico que filmes como A Dama na Água, que dizem ser um de seus tropeços, tenha ajudado a sujar a imagem do diretor, que parece ter sido mal compreendido desde que lançou seu trabalho seguido daquele que lhe rendeu a indicação ao Oscar, ignorando Corpo Fechado. “The Happening”, dizem por aí, seria mais um de seus equívocos como profissional do cinema. Mas que tipos de argumentos sustentam essa tese? Muitos ignoram o fato que o filme possui cenas de suspense de dar frio na espinha, assustadoras e por que não, absurdas? Qual seria o proposito de se filmar uma história onde pessoas começam a se matar de uma hora para a outra, cuja única explicação para tais situações catastróficas seria unicamente a fúria da natureza? Ser levado a sério? Eu acho que não, apesar do final. Afinal de contas, como já foi dito, o diretor sempre trabalhou com situações absurdas, que fogem muito do provável, mas que podem perfeitamente ter um sentido. 'Fim dos Tempos', então, é tipicamente um filme de Shyamalan, com cenas próprias do diretor e situações que ele adora explorar, e como ninguém, dirigir. Agora, para tudo há uma explicação, e essa definitivamente não é mais uma frase batida que se ouve por todos os cantos. Pelo menos, nesse último filme do diretor lançado nos cinemas, tudo tem uma explicação convincente, é só tentar entender e conseguirá.
Mas o que o filme nos tem a oferecer em sua sinopse é, por mais estranho que possa parecer, simples. Vejamos, o longa trata de uma catástrofe, onde, segundo especialistas, uma substância tóxica está provocando sintomas estranhos nos seres humanos, que enlouquecem, perdem a noção de orientação e começam a falar coisas sem sentido, antes de cometerem suicídio. Certo, já é absurdo. Mas não é exatamente isso que Shyamalan que passar ao público? No meio de todo esse caos, encontra-se Elliot Moore, um professor de ciências que junto com sua esposa e a filha de seu melhor amigo, que parte para buscar a esposa e fica ao cuidado do casal, têm que fugir para longe da área onde o “veneno” paira nos ares.
É inegável que os clichês estão presentes, mas sempre por algum motivo, já que o filme não se perde em discussões causadas por eles, até porque não há espaço para chamarem tanta atenção, devido à curta duração do longa. E talvez seja esse um dos poucos, porém graves problemas de 'Fim dos Tempos'. Apesar da atmosfera tensa que mais uma vez o roteiro de Shyamalan traz, os personagens são mal trabalhados, e como de praxe, o final previsível. O interessante é que não se trata de um dos pouco inspirados suspenses de hoje de em dia. Trata-se de mais um trabalho de um diretor que realmente sabe fazer cinema, e não vai ser dessa vez que ele vai se deixar iludir com situações sem graças, já que a todo momento o filme causa tensão, medo e a sensação da perda de algo.
Agora, se o filme tem mais problemas, e certamente os tem, eles se encontram nas atuações. E é realmente lastimável que um ator do calibre de Mark Wahlberg, que é um bom intérprete, esteja tão inexpressivo como nesse trabalho. E não é só, na verdade ele dos males é o menor, pois seu melhor amigo Julian, interpretado pelo péssimo John Leguizamo, é pior ainda, principalmente quando está do lado da também ruim Zooey Deschanel. Ashlyn Sanchez, a menina Jess, parece não servir para nada no filme, mas de que adiantaria uma história onde um homem e uma mulher em crise no casamento têm que fugir da morte, a reconciliação momentânea? Uma criança, de fato, é mais um clichê, mas um empurrão para que o filme seguisse com o mínimo de sentido.
Antes de comentar um final que para muitos foi decepcionante, é interessante dizer que uma mensagem batida nunca foi tão original, ainda que macabra. Será possível que um dia a natureza nos fará pagar pelos nossos erros? Afinal de contas nem foi tão surpreendente que o filme terminasse daquele jeito, já que o mínimo de atenção prestada no longa já dava para adivinhar que se tratava da natureza, tentando se proteger das ações humanas impensadas. Inclusive existe um diálogo no próprio filme, bem antes do final, que falam justamente disso. Shyamalan, como ninguém, soube dirigir seu filme até o fim, deixando o que seria a mensagem de consicência global bem melhor que poderia ser, e mais uma vez, provando ser aquele diretor das tais cenas categóricas.
Um fator que ajuda muito o clima de suspense constante e inquebrável de 'Fim dos Tempos' é a trilha poderosa de James Newton Howard, que junto com as cenas, formam uma dupla capaz de provocar medo, a partir da originalidade. A fotografia, dando foque ao verde, é por vezes mal compreendida, onde as cores vivas estão presentes em um filme cujo tema principal é a morte. Mais um acerto. A montagem deixa as cenas ainda mais interessantes, como a da arma no chão, usada para vários suicídios.
Enfim, Fim dos Tempos é talvez o trabalho de Shyamalan que foi o mais massacrado de todos. E a meu ver, injustamente. Ele mais uma vez, produz, dirige e escreve um filme aterrorizante, com uma história absurda, mas divertida. Uma obra interessante de ser conferida, e quem sabe, melhor apreciada.
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