Drama poderoso, cuja força sustenta-se no elenco e na proposta bem colocada.
Sam Mendes sempre foi um diretor conhecido pela sua curta e premiada filmografia. Desde o lançamento de Beleza Americana nos cinemas e a conquista do Oscar de Direção, Mendes parecia um cineasta que entregaria obras tão boas, se não melhores que as suas anteriores, mas pelo o que o mundo pôde conferir, os filmes seguintes ao grande vencedor da cerimônia do Oscar de 2000 tiveram uma série de erros, em propostas parecidas com a de “American Beauty”, porém inferiores em termos de qualidade, originalidade e ritmo. Estrada para Perdição e Soldado Anônimo foram os longas que antecederam Foi Apenas um Sonho, último filme do diretor britânico lançado nos cinemas. Assim como os três primeiros, “Revolutionary Road” trata do tema do corrido american way of life, com críticas que, como o próprio nome diz, faz menção dolosa ao modo de viver da sociedade norte-americana, sob diversos aspectos. Sejam nos subúrbios, na guerra ou na violência, agora vem a história de um homem e de uma mulher que se conhecem em uma festa e se apaixonam. Procurando uma nova vida, o casal composto por Frank e April Wheeler, interpretados respectivamente por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, se mudam para uma casa localizada nos típicos subúrbios estadunidenses, onde, apesar das limitações dos anos 50, eles planejam uma vida de felicidade, que iria muito além da vizinhaça da rua que habitam, a que deu origem ao título, Revolutionary Road. Acontece que todos os sonhos do casal acabam não se realizando, já que Frank recebe uma tentadora oferta de aumento de salário e os planos de mudança para Paris dos dois ficam para trás, e April, em casa, frustrada e decepcionada.
O roteiro de Justin Haythe trabalhou com a adaptação do livro de Richard Yates, lançado em 1961. O enredo portanto é mais uma crítica de Sam Mendes, bem sucedida por sinal, à sociedade americana, apresentando uma família como outra qualquer, cujos sonhos frustrados deixam interferir também no casamento dos dois. O filme segue uma linha tênue, mostrando aos poucos como os sonhos do casal vão descendo por água abaixo, enquanto Frank derrapa em uma relação extra-conjugal, April deixa se abalar pela vida que não havia planejado e logo as brigas e os problemas vão tomar conta do longa, que vira um retrato penoso e dolorosamente real. Apesar da boa adaptação e dos diálogos e cenas inteligentes, o filme por vezes cai em um melodrama excessivo, mas que felizmente é carregado pelo elenco extremamente bem preparado, que extrai todo o brilho da história e da direção e compõe personagens profundos e providos de sentimentos.
Entre as estrelas que fazem parte do conjunto de atores de 'Foi
Apenas um Sonho' somente um recebeu a indicação ao Oscar. É o caso de Michael Shannon, que interpreta o filho da amiga do casal Wheeler Helen Giving (Kathy Bates, em uma competente atuação). Seu nome é John, e tem a péssima mania de ser sincero demais nas horas mais inapropriadas, sofrendo de aparente problema psiquiátrico. Apesar de ser bom enquanto intérprete, Shannon não é o principal trunfo do filme, cujas atuações de Winslet e DiCaprio são bem melhores e completas, entretanto, ignorados na cerimônia mais importante do cinema, e comprovadamente uma das mais injustas. A primeira, vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática é o principal destaque, em um dos trabalhos mais interessantes da inglesa Kate Winslet, que mais uma vez, ou melhor, mais de dez anos depois de Titanic, volta à atuar ao lado de Leonardo DiCaprio, porém com um diferencial. Ambos estão bem mais corretos, experientes e convincentes, em especial, pode-se dizer que o talento do ator americano tenha crescido muito desde Jack Dawson, na superprodução dirigida por James Cameron, vencedora de 11 Oscars. Ele compõe um personagem ambicioso, que quer subir na vida, ainda que falte muitas vezes ao respeito com a esposa, as brigas do casal tornam-se mais interessantes e ardentes com a explosão de talento do casal, conhecido de longa data.
Perante a proposta bem cultuada, a fotografia é mais uma vez destaque em um filme de Sam Mendes. O responsável pelo trabalho desta vez é o conhecido Roger Deackins e como fez com O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford, dirige com maestria o seu fundamento. Acontece que pra quem conhece o trabalho de Mendes sabe que a belíssima reconstrução de época, desde os figurinos bonitos até os cenários simples, porém ricos, serve somente de fachada para o pesado enredo. Aliás, isso é evidente em todos os filmes do diretor. A música composta pelo diferente e original Thomas Newman consegue captar essa essência dramática de Sam Mendes, criando faixas belas, acompanhando desde a aparente felicidade, sonhos frustrados, chegando finalmente ao arrebatador final.
E suma Foi Apenas um Sonho é um filme sobre o desencanto. O trágico final é somente mais um tempero à uma história que mesmo sem ele, seria pesada e dramática. Um filme poderoso em termos de atuações e arte, mas que peca na por vezes, redundante direção de Mendes e no roteiro excessivamente sentimental, porém fiel de Haythe. Aquém das expectativas, mesmo assim merece ser conferido.
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