Existem filmes que somente pela sua temática já seriam relevantes, porém quando ela é apresentada de forma profunda e poderosa, eles tornam-se obrigatórios e esse é o caso de “A outra história americana”.
O filme narra a história de Derek Vinyard (Edward Norton), o carismático líder de uma gangue racista que é preso por cometer um chocante assassinato. Após cumprir sua pena, arrependido do seu legado e determinado em mudá-lo, Derek percebe que deve salvar seu irmão Danny (Edward Furlong) de seguir o mesmo caminho.
Tecnicamente o filme é elogiável, destacando – se a fotografia preta – e – branca que combina perfeitamente com o passado obscuro do protagonista, a edição que utiliza flashbacks de maneira equilibrada, sem confundir desnecessariamente o público e contribuindo para a compreensão dos sentimentos atuais dos personagens e a direção segura e competente.
Entretanto o que torna o filme diferenciado é o seu roteiro, que é muito bem trabalhado e ganha potencial dramático devido às atuações convincentes do elenco, enfatizando o desempenho do jovem Edward Fulong (destacou-se após o sucesso de “O exterminador do futuro 2”) que cria um personagem complexo que vive em conflitos e , obviamente, o de Edward Norton que comprovou, definitivamente, que é um ator de enorme talento e um dos melhores da sua geração. Sua atuação como Derek é impressionante, suas cenas conseguem transpassar emoção de forma extremamente genuína. Desse modo, Norton consegue criar um personagem marcante que sofre uma transformação comportamental tão radical que somente um ator com talento nato poderia representá-la de maneira tão realista e comovente.
Ainda que não seja uma obra-prima (apesar de muito bem estruturado, o roteiro não desenvolve plenamente alguns personagens, como o amigo presidiário e negro de Derek e o homem que o incentiva a abraçar o racismo como razão de vida), o filme se destaca pela força de suas atuações principais e por tratar com extrema competência um tema que está cada vez mais evidenciado, seja pelos conflitos intermináveis no Oriente Médio ou pelos atos de preconceito que ainda persistem nos cotidianos das sociedades, o ódio pelo diferente. E é esse sentimento que move a humanidade, a passos largos, rumo à discórdia, aos conflitos e à autodestruição.
É um filme que convida o espectador a refletir sobre a natureza e, principalmente, as conseqüências do ódio na vida das pessoas, transmitindo uma mensagem simples que todos conhecem, mas esquecem do seu significado prático e que é proferida por um dos personagens do filme em um final impactante e melancólico: “Não somos inimigos, mas amigos. Não devemos ser inimigos...”. Nada mais urgente.
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