O fato de Akira não acreditar no ser humano como ser político, vendo-o sempre como corrupto ou sujo em coletividade, é mais uma vez retomado no samurai YOJIMBO –O GUARDA-COSTAS (Yojimbo, 1961), mas assim como em Rashomon e em Viver, é a partir do ser humano que a salvação ocorrerá. É isso que Sanjuro de certa maneira faz ao chegar ao acaso em uma decadente cidade dominada por duas gangues rivais com forte viés político e de dominação típicos do Japão feudal. Apesar de Sanjuro ser tão ruim e até pior do que as pessoas das gangues, ele equilibra a situação caótica da cidade no final do filme.
Akira era meticuloso em seus planos: característica do teatro japonês e de sua mania de pintar storyboards lendários, criando obras de arte que culminam em pinturas em movimento. Percebemos a beleza da composição, da profundidade de campo e da iluminação expressionista em cenas como a que Sanjuro está em cima de um telhado observando abaixo de si as duas gangues lutarem, ele ri e debocha com superioridade da situação assim como fará o resto do filme. Samurai poderoso, ele mudará de lado constantemente, dependendo de quanto dinheiro elas pagarão ou de seus princípios morais.
Em Por Um Punhado de Dólares (Sergio Leone, 1964) Leone pega a mesma história de Yojimbo e troca as espadas katanas e os samurais por pistolas e cowboys do western. Mas um personagem se destaca em Yojimbo: Unosuke, em um autêntico filme samurai, usa uma pistola! Fugindo do duelo ao usar uma arma de fogo, o personagem é completamente deslocado no filme, a pistola (artigo de meados do século XIX) destoa como objeto de um Japão feudal, quase um erro ou elemento fantasioso (onde supomos que a história se localize temporalmente). A “trapaça” de se usar uma pistola não é perdoada por Akira: no duelo final Unosuke dispara ao mesmo tempo em que Sanjuro atira uma faca em seus braços, o tiro não o acerta, e apesar de ser a arma mais alta sonoramente e mais poderosa, é a faca que leva Unosuke a morrer. No meu ver, Akira aqui brinca e parodia os homens do oeste afirmando a idéia do samurai como ser mitológico. Além disso a peculiar trilha sonora aqui é parecida com os filmes de Leone e as trilhas de Ennio Morricone ao dialogar com o ambiente e os personagens ao mesmo tempo que eleva a cena.
Cara belo texto, mas acho que cabia pelo menos 8,0 hein...?😏