Em 2010, Tim Burton nos entregou sua adaptação de "Alice no País das Maravilhas". Todos esperavam pela beleza Disney moldada às leves sombras do diretor, a originalidade das personagens e a abstração surreal, e ao mesmo tempo tão doce. O desapontamento foi inevitável: o longa é contido, de roteiro fraquíssimo e com grande apelo popular, o que o distanciou bastante de seus trabalhos anteriores. Sendo assim, seria mesmo injusto subjugar por antecedência sua milésima parceria com Johnny Depp - Mentira, é a oitava -, sucessora do enjoado País das Maravilhas?
Barnabas Collins (Johnny Depp, Diário de um Jornalista Bêbado), herdeiro da indústria pesqueira, é condenado à vida de vampiro e confinado em um caixão após recusar o amor da bruxa Angelique (Eva Green, Os Sonhadores). Duzentos anos depois, ele desperta, apenas para descobrir-se nos anos 70 em meio à decadência financeira de sua família.
O trio Burton, Bonham Carter e Depp está junto novamente, dessa vez acompanhado de rostos familiares e charmosos, como Michelle Pfeiffer (Chéri) - como está bela! -, a carismática Chloe Moretz (Kick-Ass) e a sexy Eva Green. Todos trabalham de acordo, numa atuação teatral e exagerada, bem adequada à proposta semi-pastelão do longa. Eficientemente, formam dois núcleos: de um lado, a família disfuncional que depende do excêntrico Barnabas para se reerguer, do outro, a feiticeira que ainda não superou a decepção amorosa.
A história é mediana, a proposta é mediana... O longa, adivinhem, acaba também mediano! "Dark Shadows" não é ruim como seu antecessor, mas possui traços em comum. Como citei, o grande talento de Burton é construir mundinhos singulares, que mesmo sombrios, despertam certa empatia inocente no espectador. O que vi em "Dark Shadows" semelhante a Alice foi o reforço deste traço, porém direcionado ao que chamamos de uma comédia tradicional, não para os admiradores do diretor. O estilo até que é um camaleão: funciona aos apreciadores de um humor mais simples, e também como uma ironia propositalmente forçada a quem curte sarcasmo. O longa demora a acostumar - a primeira metade é entediante -, mas quando nos atinge, finalmente traz a comicidade grotesca do diretor em sua totalidade.
A segunda metade é mais eficiente no que propõe, finalmente atrai atenção a ponto de percebermos sua minúcias tão caricatas: o divertido trabalho canastrão dos atores - a cena dos hippies é impagável -, a enxurrada de referências pop 70s, a trilha sonora deliciosa, e até mesmo a excentricidade visual de Burton, aqui mais sóbria, mas ainda assim com seus dotes, como os móveis esplendorosos, o vestuário e o belo contraste entre o passado e o "presente".
É uma pena que esta beleza não tenha sido sustentada até o fim, tão preguiçosa é a condução do roteiro através da história. "Sombras da Noite" conta com uma sequência final fraca e repleta de reviravoltas desinteressantes. Assim como o início, não consegue preencher a capacidade do diretor, com segmentos que se tornam sem identidade, com ritmo frágil e até mesmo sem conteúdo.
Dizer que é um longa horrível seria hipocrisia, mas afirmar que é bom seria exagerado. Mais uma vez, é um caso em que há características magníficas a serem trabalhadas, mas o desleixo na condução da história prejudica o material em sua totalidade. É por isso que a beleza de "Sombras da Noite" esvaiu-se de minha mente assim que acabou. É tão fraco, tão simples, tão whatever, que o prazer com seus trechos inteligentes torna-se apenas uma breve lembrança. Não é só de sacadas que se sustenta um filme, e assim Tim Burton desperdiçou grande chance de surpreender, com mais um trabalho inconsistente que apenas leva grandes nomes.
Texto escrito para meu blog Beep Bop Boom - como visto em http://www.beepbopboom.com.br/2012/07/sombras-da-noite.html -, e adaptado ao CinePlayers.
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