Baseado no livro "Alfred Hitchcock and the Making of Psycho", o filme narra, ao contrário do que o título sugere, apenas um pequeno intervalo de tempo da carreira de Alfred Hitchcock, um dos mais aclamados diretores de todos os tempos. O filme inicia-se a partir do lançamento de Intriga Internacional, em 1959, o mais novo sucesso do mestre do suspense. Em dificuldades para escolher um novo projeto Hitchcock demonstra interesse pelo fracassado livro "Psycho", dois motivos o levaram a ficar obsecado pelo livro e querer que este fosse o seu novo filme: a morte da protagonista no meio do filme e a personalidade de Norman Bates reunindo canibalismo, travestismo e outros aspectos que chamaram a atenção do diretor.
Apesar de tantos sucessos seguidos, Hitchcok encontrou bastantes dificuldades e a produtora Paramount não quis financiar o filme por conta das cenas de alto nível de violência e suposta nudez, inaceitáveis na época. Mas a obcessão do diretor pelo projeto foi tanta que realizou o filme com o próprio dinheiro, sendo que, caso o filme não fosse um sucesso Hitchcock estaria falido. O filme ainda foca na esquecida esposa de Hitchcock, Alma Reville (Helen Mirren), mostrando sua contribuição e importância nos filmes do diretor, já que ela auxiliava na direção, edição, roteiro, produção e até mesmo em escolhas dos atores para os filmes.
O tipo de filme que desperta o interesse de qualquer cinéfilo, por tratar de uma figura tão respeitada e conhecida e dos fascinantes bastidores de um dos melhores filmes de todos os tempos. Mas o que persebe-se é um desperdício de uma grande história que tinha potencial para ir além, dando a impressão de que tudo foi muito superficial e explorado de forma equivocada - como o suposto caso da esposa de Hitchcock com um escritor - tornando um filme bom, mas limitado e repleto de clichês.
A direção de Gervasi é pouco inspirada - um grande diretor como Hitchcock merecia uma homenagem de um grande diretor -, acrescenta pouco ao filme, tem lá seus raros bons momentos, mas joga a responsabilidade para o elenco. Que por sua vez corresponde bem (não maravilhosamente bem, mas...). Anthony Hopkins, com seu rosto com camadas e camadas de maquiagem, teve uma boa atuação, seu sotaque foi muito bem trabalhado. Sua interpretação passa longe de lembrar seus momentos no auge em O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991) mas também passa longe de ser ridículo. Helen Mirren foi a melhor atuação do elenco, regular em todo o filme, em sua interpretação se demonstra contundente. Helen Mirren atuou no papel de Alma Reville, a mulher de Hitchcock, e teve muita importância para a trama, sendo quase que uma protagonista.
Saindo dos "protagonistas" vamos as atuações dos coadjuvantes. James D'Arcy, interpretando Anthony Perkins, pode-se dizer que foi bem, demonstrando ser tímido e inseguro - sendo que estas são características de seu personagem -, dando a impressão que é realmente Perkins no filme, a semelhança é enorme. O desastre do elenco foi Jessica Biel, tudo bem que o roteiro não dá nenhum espaço para a personagem Vera Miles, mas se demonstra desinteressante, e em suas cenas pouco se percebe-se algo destacável. Se Helen Mirren realizou a melhor atuação do elenco, foi seguida de perto por Scarlatt Johansson. Graciosamente bela, sua interpretação me agradou muito. No papel de Janet Leigh, o roteiro demonstra o mesmo erro da personagem Vera Miles, onde pouco se tem a fazer com a personagem, mas Johansson foi brilhante, sendo que em duas cenas se sai tão bem que lembra muito Leigh no filme Psicose (Psycho, 1960), a própria cena do banheiro e a cena da fuga de carro, onde as expressões faciais e corporais de Johansson mostram toda a capacidade da atriz. Pena que o roteiro impediu um maior destaque para Johansson.
Apesar de tão famoso e conhecido, Hitchcock era bastante reservado, e pouco demonstra em respeito a seus sentimentos. O filme tenta exatamente expor os sentimentos do cineasta através de suposições, ou seja, se expõe ao fracasso. Porém, apesar do resultado não ser tão bom, o fracasso não seria apropriado, sendo que ninguém realmente sabia como era a vida de Hitchcock entre quatro paredes. Portanto Gervasi decidiu focar o filme no casamento entre Alfred e Alma, realizou decisões certeiras como mostrar ao público a importância da esposa nos filmes do diretor, fato que poucos sabiam, mas falha feio na suposta traição da esposa de Hitchcock. O caso de Alma com um escritor não acrescenta em nada a trama, apenas cenas desinteressantes e irrelevantes, e provocara uma ira no cineasta que resultara em cenas ridículas e risíveis.
Destaco negativamente uma cena: A cena em que Hitchcock vai mostrar ao ator Perkins como esfaquear a personagem na cena do banheiro e imagina a atriz como se fosse o seu suposto, me perdoe o uso da palavra, "Ricardão". Ora, então a magnífica cena foi apenas resultado do ciúme do diretor, e não do talento do mesmo? Foram este e outros momentos fúteis resultados da traição da mulher de Hitch desnessáriamente acrescentado a história.
Apesar de tudo, o resultado do filme é melhor do que o esperado. Agrada em partes, sendo que não é tão difícil tornar um filme de metaliguística sobre Alfred Hitchcock ser interessante.
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