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A arte de Mario Bava

O grande Mario Bava, mestre absoluto do cinema de terror italiano, é um nome muitas vezes subestimado quando em comparação a um Dario Argento ou um Lucio Fulci, e nem sempre tem sua influência e importância ressaltadas como merece. No Brasil, seus filmes são pouquíssimo divulgados por distribuidoras ou apresentados em mostras e festivais de cinema, e tamanha injustiça é combatida timidamente em blogs e sites de cinema que fazem sua parte em divulgar esse nome.

Recentemente, a distribuidora Versátil Home Vídeo tem exercido um papel importante na divulgação da obra de Mario Bava, e em parceria inédita com o Cineplayers, foi preparado um especial para a apresentação e recomendação da nova coleção intitulada A Arte de Mario Bava, já disponível para venda. Se você não conhece ou pouco conhece do diretor, sua chance é essa.

Há uma seleção de quatro filmes de Mario Bava, com extras que incluem depoimentos de Tim Burton, John Carpenter e Joe Dante. Nessa primeira edição, há o acréscimo de quatro cards que reproduzem a arte dos pôsteres originais de cada filme. O documentário Mario Bava: Maestro do Macabro é uma das melhores opções nos extras.

Em outras coleções recentes da Versátil também se encontram filmes do Bava restaurados. No box Obras-primas do Terror volume1 aparece O Chicote e o Corpo (La frusta e il corpo, 1963), no volume 2 temos os aclamados O Ciclo do Pavor (Operazione Paura, 1966) e Lisa e o Diabo (Lisa e il Diavolo, 1973), enquanto na coleção Clássicos Sci-fi temos a raridade O Planeta dos Vampiros (Terrore nello spazio, 1965), única ficção-científica espacial dirigida pelo italiano.

Em A Arte de Mario Bava, a seleção é composta por A Maldição do Dêmonio (La maschera del demonio, 1960), O Alerta Vermelho da Loucura (Il Rosso Segno Della Follia, 1970), A Garota que Sabia Demais (La Ragazza Che Sapeva Troppo, 1965) e Cães Raivosos (Rabid Dogs, 1974).

A Maldição do Demônio vem em inédita versão restaurada com o áudio em italiano, além de comentários de Tim Lucas, o maior biógrafo do cineasta. Com uma história envolvendo bruxas e ressurreições, o filme tem papel essencial na perpetuação do gênero fantástico no cinema italiano, influenciando muitos trabalhos posteriores de outros cineastas do movimento, além da magnífica atmosfera de um conto de horror gótico potencializada pela bela escolha de fotografia em preto e branco.

O Alerta Vermelho da Loucura é o título mais raro da coleção e traz Bava trabalhando artesanalmente conceitos do giallo, mas com um toque sobrenatural que o permite também transitar dentro do terreno do horror, unindo assim duas vertentes de seu cinema por meio de uma composição imagética hipnotizante. Nota-se aqui muito de sua formação cinéfila e literária, como geralmente só se encontra em trabalhos iniciais, mas privilegiado pelo fato de que na verdade se trata de um trabalho que veio já em fase madura da carreira. A impressão que fica é de um filme que Bava sempre quis fazer, e aguardou um momento de maior experiência e prestígio para enfim concretizar o sonho.

A Garota que Sabia Demais é tido como o primeiro giallo do cinema, e trabalha conceitos já vistos antes no cinema americano em filmes de Hitchcock (o título já denuncia a referência óbvia a O Homem que Sabia Demais [The Man Who Knew Too Much, 1934/1956], mas sua principal fonte é Psicose [Psycho, 1960]) e ajuda a perpetuar todo um conjunto de características que influenciariam demais o cinema italiano, até mesmo retornando como uma referência ao cinema americano para o nascimento dos slashers, junto com Banho de Sangue (Reazione a Catena, 1971). Não é preciso saber muito de cinema para pescar logo de cara diversas constantes que viriam a marcar presença com afinco nos filmes de terror jovens que vemos aos montes hoje. Junto com A Maldição do Demônio, talvez seja o trabalho mais seminal de Bava.

Cães Raivosos é uma oportunidade interessante de ver Bava atuando em outro subgênero popular no cinema italiano, o poliziottesco (um equivalente do policial americano). Claro que tudo está redimensionado dentro de sua própria concepção do gênero e por isso o resultado é muito particular e distante de outros poliziottescos. Acima de qualquer rótulo, é o mais puro exercício de estilo e violência de Bava, um trabalho genial de montagem e a prova definitiva de que o cineasta em questão é nada menos que um gênio da forma, da cor, da luz e do movimento.

A Arte de Mario Bava é uma coleção imperdível para qualquer admirador do cineasta e é uma recomendação de toda a equipe Cineplayers aos nossos leitores. Esperamos, por meio desse artigo, inaugurar um cantinho aqui no site exclusivo para a divulgação de trabalhos como esse da Versátil, se possível mensalmente, indicando lançamentos no mercado que merecem destaque. Esperamos que gostem.

Comentários (21)

Douglas Alves | sábado, 23 de Maio de 2015 - 12:01

Estava assistindo o bate-papo dos Clássicos Sci-Fi e o Fernando Brito afirmou que vão ser lançados mais dois filmes do Bava até o fim do ano. Será que teremos um especial com Giallos logo mais?

Heitor Romero | sábado, 23 de Maio de 2015 - 12:40

Eu sei que vai sair o volume III da coleção de obras-primas do terror, pode ser que Bava esteja entre a seleção.

Rogério Alberto G. Stefanelli | sábado, 23 de Maio de 2015 - 19:25

Conheci esse genial cineasta através de Cães Raivosos e A Maldição do Demônio. Afora todas as qualidades citadas nesse bem-vindo artigo, Bava foi um precursor de gente como David Fincher ou Shyamalan na arte dos finais surpreendentes e inesperados, ou mesmo cruéis. E a beleza da fotografia de seus filmes é algo marcante. O Ciclo do Pavor e A Maldição do Demônio são meus preferidos nesse quesito. Interessante notar a presença do vento, quase como um personagem, na maioria dos seus filmes. Na espera dos próximos lançamentos da Versátil do mestre italiano. Banho de Sangue estará entre eles? Tenho a belíssima versão da Arrow, mas a versão com legendas será bem-vinda.

Rodrigo Giulianno | sábado, 30 de Maio de 2015 - 23:31

O Victor Ramos poderia comentar a edição do Lovecraft no cinema...é espetacular

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