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Críticas

Cineplayers

Stallone mais uma vez voltando aos anos oitenta em um filme que entrega o pouco que promete.

6,5

Nos últimos anos, Sylvester Stallone vem tentando retornar ao panteão dos astros hollywoodianos de uma forma, no mínimo, peculiar: revisitando a década de oitenta, época em que solidificou seu nome entre as grandes estrelas da indústria. Primeiro, Sly praticamente ressuscitou seus dois personagens mais icônicos, Rocky Balboa e John Rambo, em Rocky Balboa (idem, 2006) e Rambo IV (Rambo, 2008). Em seguida, juntou praticamente todos os astros de ação daquela década – e alguns mais recentes – em Os Mercenários (The Expendables, 2010) e Os Mercenários 2 (The Expendables 2, 2012), filmes nos quais apresentou os elementos que caracterizavam o cinema do gênero realizado naqueles dias: histórias rasas, vilões genéricos e protagonistas musculosos e durões, adeptos da filosofia “atire antes, pergunte depois”.

O mais novo trabalho de Stallone, Alvo Duplo (Bullet to the Head, 2012), segue o mesmo estilo das produções dos “mercenários”, apostando em uma trama mais do que simples para apresentar um macho movie, onde a única personagem feminina está presente por nenhuma outra razão exceto ser sequestrada pelos vilões no terceiro ato. O retorno aos anos oitenta, aliás, pode ser percebido ao ver o nome que ocupa o comando da produção: Walter Hill, cineasta que viveu o auge de sua carreira há mais de vinte anos, em filmes como 48 Horas (48 Hours, 1982) e Ruas de Fogo (Streets of Fire, 1984). Este diretor de glórias passadas é o responsável por transpor a graphic novel de Alexis Nolent às telas e, para a agradável surpresa da plateia, desempenha a tarefa de forma bastante eficaz.

O primeiro grande acerto de Hill e Stallone é terem consciência do material que possuem em mãos e, consequentemente, possuírem um objetivo bem definido. Não há qualquer intenção de passar uma mensagem, de impor algum significado ou promover alguma novidade em termos de linguagem. Alvo Duplo é tão reto quanto seu título original: um tiro na cabeça, com personagens brutos, pouco cérebro, alta dose de violência e as inevitáveis piadinhas ocasionais. Um filme divertido, rápido, que cumpre sem grandes dificuldades o pouco que promete – e é o que se espera de uma obra que traz logo no pôster Sylvester Stallone todo tatuado empunhando uma arma, não?

Assim, cientes do que pretendem realizar, Hill, Stallone e o roteirista Alessandro Camon não perdem tempo com “distrações” como desenvolvimento de personagens ou elaboração de uma trama mais lógica. Em Alvo Duplo, tudo é simples, direto ao ponto: os vilões são bem definidos e o andamento da história é facilitado, com os protagonistas descobrindo tudo o que precisam sem o menor esforço, acelerando o ritmo do filme para chegar logo à próxima cena de pancadaria ou tiroteio. A estrutura é óbvia e os clichês abundam sem a menor parcimônia, além, claro, de a trama possuir pouca lógica e do excesso de diálogos expositivos. E nem é preciso citar a falta de verossimilhança do roteiro, como fazer o personagem do policial tomar um tiro no ombro e seguir o resto da noite em lutas e tiroteios.

Isso tudo incomoda? Muito pouco. Na verdade, era o prometido. O que realmente conta, o que realmente se espera de um filme como esse, Alvo Duplo entrega com louvor. Explorando bastante a trilha rock n’ roll, Walter Hill constrói uma produção marcada pela atitude e pela testosterona: há sangue, há nudez feminina gratuita, há homens trogloditas dando porrada uns nos outros. E, mesmo sem comandar um filme há mais de dez anos – nem vale entrar na questão de há quanto tempo ele não comenda um filme bom –, o cineasta se sai razoavelmente bem nas cenas de ação e de pancadaria. Sim, há o excesso de cortes que é típico do gênero atualmente, mas ao menos é possível compreender o que está acontecendo, o que já um ponto a favor de seu trabalho.

Hill, além disso, consegue explorar bem a persona de seu protagonista Jimmy Bobo, que carrega o filme sem esforços. É o tipo de anti-herói que funciona bem em obras como essa, com sua posturacool, seu código de éticapeculiar e até mesmo algumas falas bacanas, cortesia do texto de Camon. Se o “Vamos brigar ou você vai me matar de tédio?” já diverte e funciona para expor a personalidade de Bobo, é difícil não dar um sorriso com a “homenagem” a Jerry Maguire – A Grande Virada (Jerry Maguire, 1996), quando o personagem diz ao policial: “You had me at ‘fuck you’”. Jimmy Bobo merecia ser visto novamente nos cinemas.

Incorporando o protagonista com invejável forma física para os seus 66 anos, Sylvester Stallone mostra que ainda tem suficiente presença e carisma para sustentar nos ombros uma obra do gênero. Claro que Alvo Duplo pouco exige do ator em termos dramáticos – e, quando o faz, Stallone constrange com uma espécie de “biquinho” –, mas não há como negar que ele domina a tela e que o seu desempenho nas cenas de luta é mais do que satisfatório: Sly encara o gigante Jason Momoa de igual para igual no divertido duelo final. Alvo Duplo é uma prova de que, se souber escolher os papéis certos, Stallone pode ter mais alguns anos pela frente dentro do cinema de ação.

Contando ainda com uma narração interessante, que remete ao noir – ainda que esquecida durante boa parte da projeção –, Alvo Duplo é um filme curto, sem enrolação, que atinge seus objetivos, mesmo que eles não sejam altos. É o tipo de obra que, não fosse a presença de Stallone, provavelmente nem passaria pelos cinemas. Mas é divertido, ao menos para quem sabe o que está por vir durante a sessão.

Comentários (22)

Victor Ramos | sexta-feira, 12 de Julho de 2013 - 12:01

Eu não falei apenas isso, Walter. Leia o resto, por favor.

Além do mais, o que sustenta um ator de ação não é apenas o seu físico. E mesmo que se o físico fosse algo de prioridade, o Stallone não estaria perdendo nada. O cara está muito bem, envelheceu muito bem de corpo; e não falo apenas em relação a sua idade, mas sim que ele realmente está muito malhado.

Victor Ramos | sexta-feira, 12 de Julho de 2013 - 12:08

Lee Marvin, por exemplo, estrelou vários clássicos do cinema de ação e nunca teve um corpo além do normal. Atuou de cabelo branco em seu auge, e olha só o que o tempo nos guardou.

Ele tinha feeling, algo que o Stallone também tem.

Francisco Bandeira | quinta-feira, 27 de Agosto de 2015 - 14:47

Típico conselho que o Walter leva a sério:

http://3.bp.blogspot.com/-BXQSprvWqzc/VIHJSZhWYPI/AAAAAAAAGFQ/HxF3A_NIQy0/s1600/apaga%2Bque%2Bda%2Btempo.jpg

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