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Volver

(Volver, 2006)
7,8
Média
583 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Continuando a demonstrar porquê é um dos melhores cineastas da atualidade, Almodóvar nos entrega mais um ótimo filme.

8,0

Duas estréias da semana trazem grandes mestres do Cinema de volta às suas origens. No espetacular Os Infiltrados, Martin Scorsese retornou ao tema da máfia e do submundo do crime depois de mais de dez anos. Já em Volver, o cineasta espanhol Pedro Almodóvar foca novamente o universo feminino, abordagem praticamente deixada de lado em Fale com Ela e Má Educação, filmes mais recentes do diretor.

Escrito pelo próprio Almodóvar, Volver conta a história de Raimunda, mulher casada e com uma filha de 14 anos, que ainda tenta superar a morte de sua mãe, enquanto cuida da tia. Após um acontecimento em casa e a morte da tia, Raimunda precisa dar continuidade à sua vida, enquanto ouve boatos de que o fantasma de sua mãe aparece para se comunicar.

Escrever a sinopse de um filme de Almodóvar é sempre uma tarefa difícil. A quantidade de surpresas presentes em seus roteiros costuma vir aos montes e, como algumas delas acontecem nos primeiros minutos da obra, é preciso cuidado para resumir a história sem entregar as reviravoltas. Em Volver, estas surpresas estão, mais uma vez, presentes e todas elas, sem exceção, soam naturais à trama. Não há aquela virada na enredo apenas para fazer uma “pegadinha” na platéia. Os caminhos do roteiro de Almodóvar surpreendem, mas todos estão de acordo com a história e os personagens.

Centrando em um grupo de personagens femininas e na relação entre elas, Almodóvar parece tentar transmitir com Volver uma mensagem sobre a importância de se acertar as contas com o passado. Todas as personagens carregam algum segredo consigo que as impede de seguir suas vidas com plenitude e a busca em resolvê-los, ainda que involuntariamente, é a força motriz de Volver.

No entanto, o cineasta ainda acrescenta um detalhe que oferece mais riqueza à trama: a morte. Presença constante na obra, ela surge das mais diversas formas – natural, assassinato, doença e até num espírito. Dessa forma, Almodóvar ressalta a urgência de sua mensagem principal. É como se a sombra da morte mostrasse para aquelas personagens – e por conseqüência, para o espectador – a necessidade de não deixar ressentimentos guardados, uma vez que não se sabe quando o fim chegará.

Claro que estes temas pesados são tratados com a leveza e a sensibilidade características do cineasta. Como é constante em sua filmografia, Almodóvar circula habilmente por diversos gêneros, inclusive empregando humor na trama, principalmente em relação ao fato como as personagens reagem diante de determinadas situações inusitadas. Assim, Volver aborda questões delicadas e profundas de forma agradável, fazendo o espectador pensar e, tão importante quanto, divertir-se com o que assiste.

Sempre utilizando uma fotografia carregada nas cores fortes, Almodóvar ainda faz de Volver um longa esteticamente belíssimo e bem filmado. Diversas cenas demonstram o apuro técnico do diretor, como a hitchcockiana limpeza do assassinato (com direito à trilha sonora de suspense), a tomada na qual vemos Penélope Cruz lavando louça (que decote!) ou o tocante momento no qual Cruz e Maura se abraçam em um banco de praça, com a câmera filmando de longe (um plano com múltiplos significados).

Redimindo-se completamente de seus fiascos e péssimas atuações em território ianque, Penélope Cruz encabeça o elenco de Volver com desenvoltura e magnetismo impressionantes. Confesso que jamais gostei do trabalho da atriz, mas Cruz surge aqui como uma diva completa, iluminando cada segundo em que aparece com beleza estonteante e dedicada construção de uma personagem complexa e repleta de camadas. Boa parte dos momentos emocionantes de Volver existem graças à atuação de Cruz, como quando a irmã conta que a mãe voltou ou a devastadora interpretação musical (ainda que seja clara a dublagem).

Fazendo o contraponto ideal à deslumbrante presença de Cruz, Carmen Maura encarna a mãe com ar de certo deboche que é fundamental para dar leveza à trama. São dela os momentos mais divertidos de Volver e a atriz demonstra seu talento ao se sair bem tanto nestas cenas quanto naquelas de maior carga dramática.

No entanto, Volver não é só flores. Ao contrário dos filmes anteriores de Almodóvar, aqui a história peca por algumas subtramas desnecessárias que pouco acrescentam ao desenvolvimento da trama ou dos personagens. É o caso, por exemplo, de toda a seqüência do restaurante e da equipe de filmagem. Com isso, a obra acaba perdendo um pouco o ritmo em alguns momentos, o que coloca o longo um ínfimo degrau abaixo dos últimos trabalhos do diretor.

Ainda assim, Volver pode ser considerado facilmente mais um acerto na carreira de Almodóvar. Com uma impressionante seqüência de cinco grandes filmes, não seria exagero considerar o espanhol como o melhor cineasta em atividade no planeta. Uma constatação um tanto precipitada, talvez, mas uma possibilidade muito real. E Volver está aí para provar.

Comentários (2)

Alexandre Marcello de Figueiredo | segunda-feira, 10 de Setembro de 2012 - 20:07

Ótima história contada num universo só de mulheres. Almodóvar aborda esse universo como ninguém e ainda nos dá a beleza de Penélope Cruz e seu maravilhoso decote.

Paulo Junior Soares dos Santos | segunda-feira, 21 de Janeiro de 2013 - 00:12

Eu não concordo quando você diz que o restaurante é uma sub-trama inútil. Para mim aquele restaurante está ali para dar esperança a Raimunda de que poderá ainda viver sem ser dependente dos pecados e erros cometidos, e por que não sofridos durante a vida. Enfim, é o primei filme que vejo de Almodóvar e fiquei maravilhado com tão bela obra proporcionada.

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