No Twitter, Guillermo Del Toro cobre O Irlandês de elogios
Guillermo Del Toro é gente como a gente: o cineasta mexicano famoso pelo favorito cult O Labirinto do Fauno, o blockbuster Círculo de Fogo e o vencedor do Oscar de Melhor Filme A Forma da Água, tomou um tempo da produção do seu novo longa Nightmare Alley para ver O Irlandês, novo filme de Martin Scorsese (Os Bons Companheiros), e ficou tão empolgado que postou nada menos que treze tweets em seu perfil oficial!
Confira a tradução na íntegra:
Primeiro - o filme conecta com a natureza típica de um epitáfio como Barry Lyndon. É sobre vidas que vieram e foram, com toda a sua turbulência, todo seu drama e violência e barulho e perda... E como invarielmente desaparecem, assim como todos nós...
"Foi no reino de Jorge III que os personagens supracitados viveram e batalharam; bons ou maus, lindos ou feios, ricos ou pobres, todos são iguais agora" Todos nós seremos traídos e revelados pelo tempo, humilhados por nossos corpos, despidos de nosso orgulho.
O filme é um mausoléu de mitos: um monumento funéreo que vem esmigalhar os ossos abaixo de si. Granito é feito para durar mas ainda viramos pó dentro dele.
É o anti-"My Way" (tocado em todo casamento gângster no mundo). Arrependimentos eles têm mais de um. A estrada não pode ser desfeita e todos nós temos que pesar no fim. Até o recurso de voice-over tem De Niro parando em um resmungo sem sentido -
Eu me lembro, em um documentário sobre Rick Rubin - ele explicou como Johnny Cash cantando Hurt (tendo vivido e perdido e ido para o inferno e voltado) deu uma dimensão que não poderia existir na voz de um então jovem Trent Reznor (mesmo ele tendo composto). O filme é assim.
Scorsese começou junto a Schrader, como jovens homens, procurando Bresson. Esse filme transformou todos os mitos de gângster em arrependimento. Você vive esse filme. Nunca é pela sensualidade da violência. Nunca pelo espetáculo. E ainda assim é cinematograficamente espetacular.
O filme tem o sentimento inexorável de uma crucificação - do ponto de vista de Judas. Todo o caminho da cruz é permeado por humor e por um senso de banalidade - ou futilidade - que os personagens são introduzidos em letreiros com seus epitáfios superpostos em telas: "Assim é como eles morrem".
Nunca achei que eu veria um filme em que eu torceria tanto para Jimmy Hoffa - mas eu torci - talvez porque, no final, ele, muito como os Kennedy, representou também o fim da majestosa estatura do pós-guerra na América.
Pesci é supremamente minimalista. Magistral. Ele é como um buraco negro - um atrator de planetas - matéria escrua. DeNiro sempre me fascinou quando ele interpreta personagens que lutam contraalgo acima de seu verdadeiro peso - ou inteligência - É por causa disso que eu amo ele tanto em Jackie Brown -
Uma interessante transferência entre esses personagens - Pesci - que interpretou o monstro Maquiavélico, reganha uma inocência senil, um esquecimento benigno e o personagem de DeNiro - que operava com um vazio moral - ganha consciência o suficiente para se sentir uma amarga solidão.
Acredito que esse tanto é ganho se nós cruzarmos as referências de nossas transgressões com o quanto nós nos sentimos nos últimos três minutos de nossas vidas - quando tudo fica clara: nossas traições, nossas redenções e acima de tudo nossa insignifância. Esse filme me deu esse sentimento.
Esse filme precisa de tempo - no entano - ele tem que ser processado realmente como um luto real. Ele vem em estágios... Eu acredito que a maior parte do seu poder vai se entranhar com tempo e provocar uma verdadeira realização. Uma obra-prima. O complemento perfeito para Os Bons Companheiros e Cassino.
Veja isso. Em um cinema. Esse filme ficou em desenvolvimento nos estúdios por tanto tempo... Ter ele aqui, agora, é um milagre. E, aliás - as 3 horas mais rápidas em um cinema. Não perca.
O Irlandês estreia 27 de novembro.
1/13: 13 Tweets about Scorsese's The Irishman: First- the film connects with the epitaph-like nature of Barry Lyndon. It is about lives that came and went, with all their turmoil, all their drama and violence and noise and loss… and how they invariably fade, like we all do…
— Guillermo del Toro (@RealGDT) 30 de setembro de 2019
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