Star Wars: Episódio VIII - Os Últimos Jedi
Quando J. J. Abrams assumiu a franquia Star Wars o seu episódio VII, “O Despertar da Força”, a forte impressão que ficou foi a de um filme hábil, envolvente, dotado de um ótimo elenco e que deixara questões promissoras para uma continuação. Seu ponto mais fraco era a repetição da estrutura narrativa do episódio IV, abraçando a jornada do herói de maneira clássica e repetindo elementos já vistos em outros episódios da franquia, como uma nova Estrela da Morte, a Starkiller, ou o surgimento do novo Império, a Primeira Ordem. Pois em “Star Wars episódio VIII: Os Últimos Jedi” o diretor e roteirista Rian Johnson avança na trama e no desenvolvimento de seus personagens com segurança e uma ousadia necessária para que este episódio não caia no lugar comum de mais um filme da saga, mas que se destaque de tudo que já fora feito antes na franquia.
“Os Últimos Jedi” tem início imediatamente após os acontecimentos de “O Despertar da Força”, algo novo na série, uma vez que todos os filmes até então contavam com um espaço de tempo de alguns anos entre si. Narrativamente Rian Johnson reinventa a maneira de narrar Star Wars, mergulhando a câmera em alguns pontos, executando travellings ágeis e inserindo cenas de flashbacks e de cenas curtas com cortes rápidos na narração de alguns personagens. Se J. J. Abrams estruturava seu roteiro no episódio IV, não necessariamente Johnson espelha o seu no episódio V. Apesar de algumas semelhanças, aqui o enredo é mais complexo e intrincado, dividindo a ação em diferentes núcleos narrativos liderados por personagens novos ou que já foram apresentados antes. Estabelecer uma história mais complexa e dinâmica tem como principal custo retardar o ritmo do filme nos primeiros minutos, mas a montagem consegue dar conta das múltiplas histórias que convergem aos poucos no decorrer do longa. Do meio para o fim, o filme atinge um ritmo envolvente e as suas reviravoltas e revelações (que são muitas no decorrer da projeção) deixam possibilidades promissoras para o próximo longa.
Rian Johnson, que já dirigira o ótimo “Looper: Assassinos do Futuro”, além de “A Ponta de um Crime”, “Vigaristas”, e três episódios de “Breaking Bad”, “Fly”, “Fifty-One” e “Ozymandias”, é um cineasta que dá conta de histórias mais sombrias e pesadas. Quando “Breaking Bad” assume o ponto de virada em sua última temporada, em que Walter White passa a se tornar uma ameaça para a sua família a ponto de ele mesmo comprometer a integridade física das pessoas que deveria proteger em “Ozymandias”, é Ryan Johnson quem narra essa história com precisão. Em Star Wars não é diferente. Apesar do humor presente sempre em cena, seja nas figuras da ilha em que Luke está recluso ou na interação entre os personagens em momentos de tensão, Johnson passa a construir um enredo em que o bem e o mal não são tão facilmente distinguíveis. Personagens bons são capazes de fazer algo mau e os personagens maus podem ter motivações fortes que justifiquem suas atitudes. Aqui Johnson trilha o caminho do meio na linha que separa o preto do branco, valendo-se do que a própria saga já fora capaz de presentar sobre esse tema, tanto em “O Império Contra-Ataca” como e “A Vingança dos Sith”, nesse em particular, em que a vaidade dos Jedi levaram a destruição da República e o surgimento do Império.
A fotografia inspiradíssima de Steve Yedlin, além das cenas de batalhas que são grandiosas, bem orquestradas e filmadas de maneira envolvente e dinâmica, estabelecendo senso de urgência e fazendo-nos sentir por cada perda ao longo do filme, já servem para estabelecer o filme como o melhor Star Wars em termos visuais. A batalha final é de se admirar com a criatividade e beleza. O CGI, quando empregado funciona muito bem, mas o destaque vai para os efeitos práticos usados no decorrer do longa, dando todo o ar de verossimilhança e realidade às cenas. As lutas de sabre tem mais o caráter narrativo do que de apresentar uma coreografia elaborada. Pessoalmente sempre considerei que um uso funcional do sabre de luz para um enfrentamento deveria ser algo breve, de poucos movimentos e precisão objetiva, algo que passa longe da pirotecnia das grandes lutas que vimos na trilogia prólogo inteiramente dirigida por George Lucas. Nesse sentido, a luta que presenciamos na sala vermelha é grandiosa o bastante e narrativamente representa um momento de virada do filme, que surpreende mais uma vez e revela muito sobre o caráter e as motivações de seus personagens. No enfrentamento que há no final, temos a grandiosidade do personagem de Luke, tratado de maneira respeitosa e evidenciando o poder de um grande e completo Cavaleiro Jedi, numa das sequências mais emocionante da saga.
Apesar de ser sombrio em alguns momentos, a mensagem principal de “Star Wars Episódio VIII: Os Últimos Jedi” é a de esperança. Dessa forma, o filme tem o desfecho perfeito, focando, de maneira quase metalinguística, na imagem que temos dos nossos heróis, e como esses mitos podem nos inspirar a transcender a nossa condição e transformar-nos em donos de nosso próprio destino, assim como uma personagem que, curiosa por descobrir seu passado, vê o próprio reflexo na frente de si.
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