Lupas (271)
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Relações esfaceladas. Você ainda acredita nelas? Um mundo real que, além de desintegrar-se a cada minuto, confunde-se cada vez mais com o virtual. Pessoas ou fantasmas? Pro Kurosawa é quase o fim. Para os mais otimistas, o começo dele. Para os que escolhem viver, ainda que nesse nosso plano de realidade desunido coletivamente, onde o que impera é a solidão, o egoísmo e a indiferença para com o próximo, é bom correr. É bom amar, é bom externar, até mesmo chorar. Antes que tudo desapareça.
Marcelo Queiroz | Em 03 de Outubro de 2020. -
Tanto aqui quanto no Elefante, o Van Sant mostra que é um poeta do audiovisual, especialmente no que tange ao retrato quase experimental da juventude. A unidade dramática exprimindo a opressão e as ambições do jovem sem a mão pesada costumeira no trato dessas temáticas.
Marcelo Queiroz | Em 23 de Setembro de 2020. -
Bom trabalho de Komasa na direção, ainda que o filme possua seu ritmo trôpego. Em resumo, uma obra bastante sutil na exposição diegética de questões em voga. Uma obra que consegue conciliar seu manejo de fatos contemporâneos com uma condução de protagonista incrível. Verdadeiro lobo solitário, sociopata, classifique como quiser, que permite um fim mais do que esperado na chave fatalista e, como tal, trágica.
Marcelo Queiroz | Em 09 de Setembro de 2020. -
("Não importa se as corridas nunca mudam. O que importa é se deixamos as corridas nos mudarem. Cada um de nós tem que achar uma razão pra fazer isso. Você não entra num T-180 pra ser um piloto. Você entra porque é um piloto.") Essa frase do Racer X, direcionada a Speed, é um dos pontos mais altos na filmografia das Wachowski. Cereja do bolo de um filme completo, que experimenta e brinca com a linguagem, usando corajosamente de um CGI bem articulado à narrativa.
Marcelo Queiroz | Em 07 de Setembro de 2020. -
Hermético demais, Kaufman, assim como em Sinédoque, trabalha com diálogos excessivamente longos em meio a uma colcha de retalhos - principalmente aquela a referenciar coisas mil - dentre elas John Cassavetes. Mas o gancho com Uma Mulher Sob Influência parece uma isca em mar aberto e revolto, que até se faz entender no caos de suas ondas, mas da maneira mais entediante possível. Faltou refinamento nesse articular do texto à imagem.
Marcelo Queiroz | Em 05 de Setembro de 2020. -
Vai bem até a página dois, depois desanda que é uma beleza. Vale pelo John Malkovich, cujo personagem, com camadas e aprofundamento num nível satisfatório, mostra-se uma das únicas virtudes do filme.
Marcelo Queiroz | Em 02 de Setembro de 2020. -
É bem verdade que há uma boa oscilada de ritmo no miolo do filme, mas The Irishman é um feito no sentido de perpassar a vida de um homem através de decupagem excelente. Scorsese e Zaillian dão conta de nos fazer observar como a jornada de Sheeran impactou família, amigos e integrantes da máfia. Mas o longa não é somente sobre Sheeran, uma vez que tem êxito em evidenciar tudo o que orbita Frank: a política, os sindicatos e o temor relacionado a algo imbuído em trágicas consequências.
Marcelo Queiroz | Em 28 de Agosto de 2020. -
É interessante notar como o Linklater trabalha muito bem com a ideia de núcleos paralelos que parecem convergir pra um mesmo ponto no fim das contas. São adolescentes e jovens adultos em busca de afirmação, em busca de momentos para descarregar a adrenalina latente que percorre as veias. São donos de corpos com hormônios à flor da pele. É bem verdade que cada um deles toca na nota de sua própria tribo. Quase um tratado cinematográfico sobre a juventude pré-oitentista que viveu em época mágica
Marcelo Queiroz | Em 26 de Agosto de 2020. -
Coppola usa a linguagem cinematográfica a serviço de um retrato dinâmico. Ao invés de fotografar duas almas, coloca ambas em posições vagantes. Dois indivíduos que não se afirmam cosmopolitas, mas que encontram em Tóquio - em meio às idas e vindas iluminadas pelos grandes letreiros da capital japonesa - um refúgio no amor e no abraço carinhoso.
Marcelo Queiroz | Em 22 de Agosto de 2020. -
Ramsay e seu soft violence movie. Eis aqui a faca de dois gumes. Se, por um lado, Lynne é afiada no corte que aplica com a mãozona do Phoenix, por outro faz uso de lâmina cega quando flerta com a violência gráfica à toa. A diretora posa toda chiquetosa, sugestionando toda uma aura soturna e subversiva, mas no fim das contas não abraça a violência - que seria essencial aqui - como elemento catártico. A usa como elemento ilustrativo barato, disfarçando-a em estética até digna. Mas é só.
Marcelo Queiroz | Em 16 de Agosto de 2020. -
O que mais incomoda aqui não é nem a vocação pra um cinema na vibe John Wick. O que chega a dar dor de cabeça é o cheiro de perfume. Mas não é só o odor forte que perturba. A prolixidade do roteiro cansa e proporciona um falatório muito chato. Ainda bem que no terceiro ato o Leitch resolve dirigir umas pancadarias.
Marcelo Queiroz | Em 14 de Agosto de 2020. -
Tarantino radiografa o fim de uma era como só ele. Embora mais contido, o diretor continua com forte apelo, aqui não essencialmente pela violência, mas sim às imagens marcantes de um tempo que Hollywood viveu em ebulição, com astros em seus últimos suspiros. Estrelas que, em alta ou não, sequer pressentiam o impacto da quebra de todo aquele sonho californiano.
Marcelo Queiroz | Em 13 de Agosto de 2020.