Lupas (57)
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A França de "A Negra de..." é janela intransponível, vista paradisíaca e sonho de uma vida melhor, desilusão pelas condições que se estabelecem para essa jornada. Se o desfecho de Diouana é sucinto, isso se dá pelo fato de ela ser, infelizmente, apenas mais uma vítima dessa condição injusta. Uma passada de olhos do leitor comum no jornal do dia, algo rapidamente esquecido, banalizado. Temos de agradecer o fato de Sembené não ser um leitor comum.
Billy Joy Vargas | Em 23 de Novembro de 2021. -
Uma mistura explosiva do Complexo de Édipo com a psicopatia do gângster americano faz com que o protagonista de Cagney sufoque tudo e a todos ao seu redor. A razão de ser do filme acaba sendo essa exploração dos limites transpostos pela figura de Cody Garrett dentro de uma dualidade peculiar que transita entre um Clyde Barrow e um Norman Bates.
Billy Joy Vargas | Em 19 de Novembro de 2021. -
É eficiente na imersão dos momentos de virada da narrativa, como no assalto ao banco e nas perseguições ao Marighella. Os planos longos e a câmera na mão conseguem articular essa orquestração em torno dos atos. O que prejudica mesmo é o personagem de Gagliasso. Se o filme é muito bem afeito a idiossincracias humanas quando trata de Marighella e seus companheiros, torna-se flagrantemente artificial e formulaico ao abordar Lúcio, numa decupagem que parece até vibrar com tudo aquilo.
Billy Joy Vargas | Em 16 de Novembro de 2021. -
Mesmo com toda a carga sugestiva que o filme imprime na sua mise-en-scène, essa mitologia nunca parece ter a mesma potência dramática das relações estritamente humanas em cena. A grande exceção disso é a cena de perseguição na qual, com a chegada abrupta de um ônibus, Tourneur faz um uso brilhante da sugestão através do som (e do consequente jumpscare).
Billy Joy Vargas | Em 10 de Novembro de 2021. -
No drama, e no estabelecimento de relações causais, acaba sendo o melhor dos filmes de monstros da Universal. Ainda que as cenas de maior frontalidade na presença do monstro não possuam a mesma potência de um Frankenstein, o drama circunstancial, e a própria dinâmica dos personagens secundários, funciona muito melhor do que nos filmes anteriores do ciclo.
Billy Joy Vargas | Em 09 de Novembro de 2021. -
Ducournau transforma a Universidade do seu filme em um palco para discussão de tudo o que considera de problemático na sociedade. O grande problema disso é como essas recorrentes abordagens ao longo do filme vão dissipando a potência do body horror no tema central de sua narrativa.
Billy Joy Vargas | Em 08 de Novembro de 2021. -
Com exceção das breves abordagens dialéticas em sua temática, o filme de Freund possui todos os pontos fracos de Frankenstein e Drácula (drama e romance incipiente em torno dos personagens/vítimas do monstro, texto ilustrativo e pouco inspirado, resolução apressada e confortável), contudo, ao contrário dos anteriores, não consegue extrair potência através do horror, ou até mesmo dessa estranheza de seu vilão.
Billy Joy Vargas | Em 05 de Novembro de 2021. -
Se, por um lado, o ritmo do filme favorece na construção da atmosfera em torno de Drácula, torna-se prejudicial quando o horror cênico não atinge a ampliação esperada. Essa circunspecção funciona nas relações muito próprias de um vilão buscando conter seus desejos primitivos, mas não consegue articular nada muito significativo nas resoluções das cenas. A cena final é somente um desfecho protocolar, em que fica clara a dificuldade de Browning em retirar algo a mais nas dinâmicas dos personagens.
Billy Joy Vargas | Em 04 de Novembro de 2021. -
A quem o camponês se refere ao apontar para o alto do moinho e bradar "o monstro!", criador ou criatura? Frankenstein termina confortável demais para que esse aspecto possa articular-se de modo mais evidente. A existência do monstro torna-se, assim, apenas um breve capítulo obscuro na vida apaziguada e desinteressante daquelas pessoas.
Billy Joy Vargas | Em 03 de Novembro de 2021. -
O que há de supostamente sobrenatural aqui nunca toma para si o papel de protagonista que esses impulsos primitivos possuem na articulação dramática e formal do filme. Onibaba explora o medo do místico, as consequências sobre-humanas de atos condenáveis que são, essencialmente, humanos. No fim das contas, o mais aterrador mesmo não é uma máscara demoníaca, mas a deformação que ela causa num rosto, o trauma irreparável que significa ser humano em situações extremas.
Billy Joy Vargas | Em 01 de Novembro de 2021. -
É um filme que dedica muito de sua narrativa para a preparação de uma dinâmica que não se concretiza objetivamente, preterindo-a para sua continuação. Por mais que a grandiosidade de certas realizações estéticas de Villeneuve sejam eficientes num impacto visual, a atitude geral de Duna é de uma postergação, de uma expectativa para o que há de vir e que, muito por sua longa duração, explicita algo de formulaico no modo do filme alternar entre o presente narrativo e um potencial futuro redentor.
Billy Joy Vargas | Em 31 de Outubro de 2021. -
A condução do Fantasma, em si, apresenta-se de modo irregular. O filme consegue manter um tom místico consistente até sua revelação, no uso de sombras e pela própria caracterização do personagem. Quando seu rosto é revelado, o que se segue é uma cena muito legítima de horror. Entretanto, o restante do filme não consegue manter a força desse personagem, e parece não saber aliar um drama por sua natureza trágica com o terror pela sua presença em cena.
Billy Joy Vargas | Em 30 de Outubro de 2021.