Lupas (57)
-
Através dos intertítulos, fica muito claro o pensamento cético de Christensen, com uma visão bastante crítica do pensamento supersticioso que, atenuado na sua contemporaneidade dos anos 1920, ainda causa danos. Contudo, o filme não fica reduzido a uma mera retórica por conta disso. Na verdade, o diretor parece muito dedicado à encenação de eventos, históricos ou imaginados, através de uma construção visual marcante.
Billy Joy Vargas | Em 28 de Outubro de 2021. -
Murnau aproveita bem os contrastes plásticos entre a figura pálida e aterradora de Nosferatu e fundos negros vazios, como se o personagem surgisse emoldurado em uma pintura sombria. A escuridão do abismo que parece existir no limite das portas, sua presença imóvel e perscrutadora na macabra casa vizinha, Nosferatu se alimenta desses espaços de pouca vida.
Billy Joy Vargas | Em 27 de Outubro de 2021. -
O filme se arrasta nessa aparente ausência de objetivos maiores de seu protagonista. Seus travellings em direção às mesas, ou acompanhando os movimentos de Tell ao longo do cassino, soam como um contínuo em direção ao nada, uma linha invisível que conecta mais um cassino, mais um jogo, ad infinitum. O que torna o filme desequilibrado é realmente a inserção, dentro dessa atmosfera fria, de alguns momentos de certa libertação sentimental, que soam demasiadamente didáticos.
Billy Joy Vargas | Em 26 de Outubro de 2021. -
O filme de Craven é verdadeiramente um marco no cinema de gênero. Não somente pela abordagem autoconsciente que propõe, e que seria exaustivamente replicada em outras obras até os tempos atuais, mas também por abordar aspectos emergentes da relação humana com os novos dispositivos de imagem. Algo que também é explorado até hoje em diferentes aspectos, seja no desktop horror ou nas distopias de Black Mirror, mas é na mãos de Wes Craven que, de fato, assume um caráter de obra-prima atemporal.
Billy Joy Vargas | Em 25 de Outubro de 2021. -
DaCosta entende que não é necessário explicar para o espectador o que sua obra significa, porém, reduzir isso a um distanciamento daquilo que se desenvolve ao longo do filme como o mais interessante, esterilizar seu horror em prol de uma sobriedade apenas desnecessária, não é, pelo menos para o que o filme se propõe, o caminho mais eficaz. Candyman acaba sobrevivendo apenas pela sua composição preparatória. Essa tensão que emana na sugestão de algo maior a ser desenvolvido a tela.
Billy Joy Vargas | Em 19 de Outubro de 2021. -
A sequência inicial eleva o filme de Gabriela Amaral a um patamar que não consegue ser mantido. É brilhante ao trabalhar na iminência do desastre, com a decupagem bastante dedicada a planos fechados ampliando o desconforto de algumas situações aparentemente rotineiras. Contudo, me parece demasiadamente calculado o modo como a diretora desenvolve o restante da narrativa, com um formalismo que torna muito previsível a violência que se sucede.
Billy Joy Vargas | Em 18 de Outubro de 2021. -
Quase um bottle movie pela sua ambientação restrita. Contudo, diferente do costumeiro em situações limitadoras como esta, o filme não se dedica a diálogos elaborados. O roteiro, na verdade, parece até simplório no sentido de texto e dramaturgia. Com isso, Shyamalan se dedica a uma mise-en-scène que assume, desde cedo, uma ingenuidade que faz muito bem ao filme.
Billy Joy Vargas | Em 12 de Outubro de 2021. -
Muito interessante como o filme consegue desenvolver dentro dessa alegoria um tom muito forte de desequilíbrio sentimental afetivo entre homem e mulher. Toda essa mistura de referências acaba ressaltando a ideia de antíteses na qual a narrativa se desenvolve. O ponto alto disso é a cena do casamento encenado, na qual a narração em off é subvertida, não só no seu aspecto formal como também na repercussão dramática, pela inserção da voz masculina que funciona como contraponto da beleza cênica.
Billy Joy Vargas | Em 11 de Outubro de 2021. -
O sexo em Crash consegue ser fetichista e, ao mesmo tempo, elegante no sentido de lidar com o obsceno de modo mais fantasioso. Cronenberg aborda o ato sexual como ente de algo maior dentro de sua mise-en-scène: uma espécie de sinergia homem-máquina que busca testar os limites físicos de cada parte atuante. O fetiche dos personagens recebe uma ampliação sensorial por conta dessa mise-en-scène que não separa o toque humano do movimento maquinal, num jogo harmonioso de sons e texturas.
Billy Joy Vargas | Em 08 de Outubro de 2021. -
Paradoxalmente, o final da saga de Craig não é sobre o que acontece com seu personagem, e sim sobre o legado que ele deixa. As escolhas dramáticas e estéticas de Fukunaga trabalham num melodrama não como mero subproduto da ação característica, mas como razão para existência da mesma.
Billy Joy Vargas | Em 06 de Outubro de 2021. -
A vida é trabalho, para viver é necessário o alimento. O âmbito familiar necessita ser zona segura das hierarquias, por vezes duras, do universo do capital. Meninos de Tóquio consegue articular brilhantemente essa ideia, sem deixar de lado a noção que, depois da tempestade de sentimentos conflitantes, vem a calmaria de uma vida que diariamente apresenta novas situações.
Billy Joy Vargas | Em 30 de Setembro de 2021. -
O filme se sai bem nessa proposta de luta contra o sobrenatural, o que acaba diminuindo a importância de não ter uma figura tão representativa do mal, como foi Annabelle e a Freira nos anteriores. A desorientação dos personagens é muito bem articulada e em nenhum momento soa como um mero recurso fetichista.
Billy Joy Vargas | Em 28 de Setembro de 2021.