Lupas (3068)
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Corpos que se encontram para tentar aplacar a solidão. O mal-estar moderno e sua inclinação a incomunicabilidade. Tsai Ming-Liang explora o insólito das relações humanas, o estímulo sensorial da imagem e a simbologia do ato sexual. O diretor sempre consegue um novo olhar na captação das insatisfações de um mundo em transformação.
Zacha Andreas Lima | Em 09 de Abril de 2024. -
Nas palavras de Orson Welles: "Não, o que nós, mentirosos profissionais, esperamos servir é a verdade. Temo que a palavra pomposa para isto seja arte. O próprio Picasso o disse. Arte, ele disse, é uma mentira. Uma mentira que nos faz perceber a verdade." A arte é uma maravilhosa farsa, uma ilusão, um desejo de eternizar. É a forma da natureza humana tentar buscar alguma verdade - ou qualquer coisa que se possa tomar como verdade. É beleza e fingimento; o mundo em constante trapaça de si mesmo.
Zacha Andreas Lima | Em 07 de Abril de 2024. -
Não é exagero escrever que o Cinema foi inventado para que filmes como "A General" pudessem ser realizados. Está tudo lá. Ação, aventura, drama, romance, comédia; as peripécias extravagantes do homem comum. E tudo feito com o melhor artesanato possível, com vigor e paixão, aquela vontade absurda que os pioneiros do Cinema demonstravam ao manejar uma câmera. É pura magia! Assombro de mise-en-scène. Não envelheceu nada em seus quase 100 anos de idade. Obra-prima que faz jus ao termo.
Zacha Andreas Lima | Em 07 de Abril de 2024. -
Um ensaio sobre a palavra como guia e força transformadora da imagem, sobre a vivência de um povo através da memória, sua terra áspera e lúgubre - plena de consciência natural e contradições da história. Os filmes de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub são complexos, exigem certo esforço dos sentidos, mas são uma experiência singular, abrem novas formas de interpretação tanto do Cinema quanto da vida em si. "Gente da Sicília" talvez seja a representação máxima das excelências do Cinema da dupla.
Zacha Andreas Lima | Em 07 de Abril de 2024. -
É um filme fantasmagórico, surreal, inebriante, hermético; um estranhamento de imagens que geram um estado de contemplação e arrebatamento. É a música, a pintura, a poesia, o deslocar da luz. Um colapso sensorial do mundo, um lamento da perdição dos tempos. Werner Herzog devia estar com a cabeça em outra dimensão quando realizou esse filme.
Zacha Andreas Lima | Em 06 de Abril de 2024. -
A podridão como arma capaz de subjugar a ordem vigente das coisas. Ordem criada para controlar, explorar e alienar, mas incapaz diante do caos puro e simples. O cheiro de decadência social sendo tão forte quanto o odor dos zumbis. O final é de uma ironia bem sagaz. Filme muito acima da média do gênero.
Zacha Andreas Lima | Em 06 de Abril de 2024. -
As fábulas de um povo. A mítica do espaço. A tradição e cultura da terra. O prosaico onde se extrai o mistério da poesia. O contador de histórias e sua carga de simbolismos. A exploração do homem. A religião como rito cotidiano e força dos poderes vigentes. O encantamento das coisas. A beleza pictórica das imagens. A suspensão do tempo para o apreciar do mundo. Esculpir o plano como verdade e ilusão. Difícil não ficar extasiado com essa realização poderosa de João César Monteiro.
Zacha Andreas Lima | Em 06 de Abril de 2024. -
Nascemos condenados a naufragar na miséria existencial nossa de cada dia. Cultivamos a indiferença como alimento imprescindível para manter nossa inércia moral. Por que? Por que somos assim? Tão fracos, indiferentes, desesperados. Robert Bresson percorria os caminhos da condição humana em seus filmes. Caminhos sempre tortuosos, mas Bresson entendia ser preciso desbravá-los, só assim poderemos aprender alguma coisa. Talvez só nos reste o pessimismo. Talvez. Filme monumental.
Zacha Andreas Lima | Em 06 de Abril de 2024. -
No homem a civilização é um verniz, por dentro ele é um animal selvagem com gosto pela violência. O que Peckinpah fez em "Straw Dogs" é nos revelar está verdade incômoda. Ele colocou seus personagens em uma paisagem bucólica e acolhedora, mas deixou o elemento humano dar o tom, o que era para ser acolhedor se transformou em pesadelo, angústia, uma raiva animalesca que vai crescendo a cada plano. Até que por fim o animal explode, a civilidade desaparece, a barbárie revela seu rosto. Eis o homem.
Zacha Andreas Lima | Em 05 de Abril de 2024. -
Fábulação de um tempo que passou e deixou saudades, encanto e luminosidade de um mítico mundo antigo. Poesia presente na imagem, na luz, na prosa, no rosto feminino. São as memórias, a tradição, a construção da identidade portuguesa. O poder de uma encenação que se dedica ao máximo para contar sua história. O Cinema de João César Monteiro é arte de caminhos misteriosos, beleza poética e singular, sonhos e desejos profundamente humanos. Filme em estado de graça.
Zacha Andreas Lima | Em 05 de Abril de 2024. -
Filme de um mórbido lirismo, amargo, trágico; história de um homem incapaz de sentir a vida, obcecado pela morte, preso na penumbra da lembrança. François Truffaut criou imagens belas e tristes, imagens que evocam um lamento do fundo da consciência. Ele não tratou a morte com receio ou espetáculo, mas como a parte intrínseca e irremediável da vida que ela é. Filme de um autor consciente de sua obra, no melhor de sua forma.
Zacha Andreas Lima | Em 05 de Abril de 2024. -
Existem sombras no coração humano. Não as compreendemos e temos medo delas. Procuramos Deus como nossa salvação, mas seu silêncio é devastador, uma tortura na nossa percepção das coisas. Não há respostas para os horrores do mundo. Não se pode fugir do desejo inconsciente, não há realização na repressão e no martírio dos corpos e mentes. O estado de medo absoluto só pode levar a loucura como último suporte existencial. Gosto muito deste sombrio e inquietante filme de Jerzy Kawalerowicz.
Zacha Andreas Lima | Em 04 de Abril de 2024.