Lupas (3068)
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"Eu nasci quando ela me beijou. Eu morri quando ela me deixou. Eu vivi por algumas semanas enquanto ela me amou." É possível sentir o amargor e a melancolia desta frase em cada fotograma do filme. Sentir a escuridão no inconsciente do personagem de Humphrey Bogart. Sentir a contemplação do abismo no coração dos homens. Sentir a solidão, a desilusão para com o mundo e as pessoas que o cercam. As vezes a vida é mera exposição do desabar das coisas. Nicholas Ray era um poeta das tragédias humanas.
Zacha Andreas Lima | Em 31 de Janeiro de 2024. -
Uma Europa ultraliberal produzindo cada vez mais exploração e solidão. Tudo é mercadoria, o proletário parece cada vez mais preso a uma não existência. Qual a esperança em uma sociedade tão fria e mecanizada? Para Aki Kaurismäki é o amor, o companheirismo, o calor dos corpos, se dividir com outra pessoa. Meio ingênuo? Pode ser. Não importa. A poesia é verdadeira. Os sentimentos e sensações na imagem também. É um filme em que cada plano tem seu significado. Uma "pequena" peça de resistência.
Zacha Andreas Lima | Em 31 de Janeiro de 2024. -
A essência simbólica da encenação, imagem barroca; alegoria do homem e sua existência. O sertão como uma terra de verdades próprias, cruel e indomável. O sertanejo é a cria do misticismo, do sol - da violência como causa e efeito. Glauber Rocha realizou uma obra-prima absoluta, uma epopeia que transpira energia e frescor em cada plano.
Zacha Andreas Lima | Em 30 de Janeiro de 2024. -
Em um filme que exala melancolia, Vincente Minnelli fez uma crítica ácida e verdadeira ao modo de vida do americano médio. Aquele mundo onde sucesso, aparência e hipocrisia se completam. Ele mostra como o vazio, o medo, a solidão, a pequenez do espírito convivem nessa farsa ilusória das coisas. A tragédia de uma sociedade viciada e preconceituosa. A desilusão que mora no cerne do país. O final é de uma grandeza arrebatadora. Considero a grande obra-prima do cineasta.
Zacha Andreas Lima | Em 30 de Janeiro de 2024. -
Desejo é pulsão. Sexo é poder. Erotismo é dinheiro. Shohei Imamura trata o sexo como sendo algo ao mesmo tempo natural e profano. Natural por ser parte fundamental da natureza humana, profano na forma como o falso moralismo e a repressão sexual engessam as pessoas. É um filme ácido, ousado, satírico, com uma fluidez visual e sensorial impressionante. Daquele filmes que nunca esgotam sua capacidade de debate.
Zacha Andreas Lima | Em 30 de Janeiro de 2024. -
Uma sátira da vida e costumes durante a idade média. Mas não uma sátira qualquer. É um delicioso desfile de arquétipos escrachados, situações desatinadas, tiradas impagáveis. Tudo muito sujo e imoral, implacavelmente verossímil no seu absurdo. É a comédia anárquica italiana em um de seus melhores momentos.
Zacha Andreas Lima | Em 29 de Janeiro de 2024. -
Um clássico sobre as mazelas da guerra. Velhos sacrificando os jovens por seus interesses, o patriotismo como mercadoria dos poderosos, o discurso que se esvai no lamaçal de sangue. A luta é vazia de sentido, a guerra é o fracasso da humanidade. Filme exemplar e sofisticado no trabalho de câmera, impecável na construção do plano, na habilidade do enquadramento. Poderoso como lamento. Poderoso como Cinema.
Zacha Andreas Lima | Em 28 de Janeiro de 2024. -
A materialidade da memória, o tempo e sua relação com as imagens. A busca de uma magia esquecida, a beleza que toca o inconsciente. A forma única do olhar, o olhar para si, o olhar para o mundo. Um respiro de nostalgia, uma nova ressignificação para a própria existência do filme. Relembrar é viver. Imaginar é ser. O primeiro longa-metragem de Victor Erice em trinta anos é uma experiência dos sentidos, um filme que exala ser um filme, uma poesia da saudade. Das imagens mais sólidas deste século.
Zacha Andreas Lima | Em 27 de Janeiro de 2024. -
O homem que carregava um abismo dentro de si. É desse abismo que nasce seu talento, sua música, mas também é onde residem seus demônios. História do homem que viveu tão intensamente quanto sua música, que sentia o amargo da vida na alma. É um dos filmes mais arriscados de Clint Eastwood.
Zacha Andreas Lima | Em 26 de Janeiro de 2024. -
São várias as ideias contidas no filme: uma investigação sobre as múltiplas realidades da verdade, o desgaste dos relacionamentos, a presença da culpa, a posição da mulher na sociedade moderna, a força da palavra no cerne das situações humanas. É um filme potente, intenso, sempre questionador, não procura soluções simplórias, sabe trabalhar as próprias expectativas. Méritos para o trabalho de Justine Triet. A realizadora soube tirar o melhor da imagem, do texto, da influência dos atores.
Zacha Andreas Lima | Em 26 de Janeiro de 2024. -
No final das contas é isso mesmo. Somos monstros. A sociedade é monstruosa. Um emaranhado de pessoas ignorantes, preconceituosas, covardes e vazias. Sei que "Monster" vai muito além desses conceitos. É um filme construído como um estudo sobre perspectiva, um drama poderoso sobre a nossa incompreensão da realidade dos outros. Mas é o que não me sai da cabeça. Somos monstros. A sociedade é monstruosa. Kore-eda é um realizador impressionante.
Zacha Andreas Lima | Em 25 de Janeiro de 2024. -
Desespero, melancolia, tragédia. Humor incomum, uma pitada burlesca, o acaso. A impossibilidade de sentir, o mundo frio do capitalismo, o clamor do corpo. A solidão sempre presente na alma, nas coisas, no todo. Tsai Ming Liang nunca decepciona.
Zacha Andreas Lima | Em 24 de Janeiro de 2024.