Lupas (330)
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Em uma narrativa bonita, com cenas bem pensadas, mas que talvez tenha carecido de um momento realmente poderoso, é nos encontros frágeis e explosivos do casal que enxergamos os instantes de maior dor, motivado pelo trabalho excepcional dos atores (Adam Driver principalmente). No mais, desperta especial interesse a dura representação de um processo de fabricação de conflitos, sustentado por todo um código de condutas, estratégias e distorções, chamado direito de família.
Victor Tanaka | Em 10 de Dezembro de 2019. -
Começa como uma reciclagem do primeiro filme e acaba entrando em um ciclo vicioso de reutilizar a si próprio (algumas vezes) sem dizer nada novo ou realmente engraçado - pelo contrário: aqui a história já esgotou seus argumentos e suas piadas, as características singulares de cada personagem já passam do ponto desde o início e os novos conflitos são desinteressantes. Os números musicais seguem divertidos, ao menos.
Victor Tanaka | Em 10 de Dezembro de 2019. -
Um típico filme que diverte por juntar um time de personagens desajustadas, essencialmente planificadas (cada uma governada por uma característica exagerada ou grotesca, e nada mais que isso) em uma história não tão interessante, mas que tem música: elementos básicos para um passatempo esquecível.
Victor Tanaka | Em 10 de Dezembro de 2019. -
Bong Joon-ho faz mais do que contar uma história fascinante, divertida e tensa: ele estabelece uma relação de oposição, mas nunca maniqueísta, entre uma classe que tenta viver estrategicamente o que dá para viver, em contraponto a outra que, ingenuamente, leva sua vida da forma que está habituada. É o todo, entretanto, que ressignifica as ações de um e outro, fixando valores e unindo-os por uma ligação de desigualdade e injustiça que culmina na loucura final.
Victor Tanaka | Em 10 de Dezembro de 2019. -
Toy Story é, inegavelmente, um triunfo cinematográfico. A principal qualidade, aqui, está em descartar cedo a figura do vilão: ao contrário dos outros, a grande força antagonista é o tempo, que traz consigo a solidão e o esquecimento contra os quais muitos desses personagens lutam. A partir daí, Woody é arremessado para dentro de uma situação análoga, e focando em seu amadurecimento, medos e nuances, o filme o conduz ao desfecho mais corajoso que poderia ter sido escolhido.
Victor Tanaka | Em 03 de Novembro de 2019. -
De forma crua, dura e quase documental, Babenco expõe o abandono, as barbaridades e a crueldade que permeiam o ambiente ao qual os menores infratores são relegados, e como os mecanismos inerentes a esses problemas sociais agem sobre os indivíduos. Cresce principalmente quando vemos, para além do filme, o fim do ator que protagonizou a obra, reforçando que as denúncias realizadas pelo roteiro são necessárias. Destaco também a sempre brilhante Marília Pêra e sua dura cena de recusa à maternidade.
Victor Tanaka | Em 03 de Novembro de 2019. -
Phillips pega emprestado uma carta marcada da cultura pop e presta uma grande homenagem ao cinema brutal, violento e reflexivo de outrora. Não é tão profundo ou original quanto se diz, visto que outros filmes já jogaram luz, de forma mais complexa e completa, sobre os mecanismos sociais que produzem assassinos, loucos e párias. Mas a forma como isso é feito aqui ainda é digna de aplausos: muito estilo, momentos realmente tensos, humor, instantes gloriosos de Phoenix e muitas referências.
Victor Tanaka | Em 29 de Outubro de 2019. -
A bomba emotiva de Walter Salles encontra nos contrastes a força para se aprofundar nas transições e, ali, alcançar a beleza: a passagem da Dora seca e sozinha para a Dora sincera com seus próprios sentimentos; do Josué imaturo para o garoto que, na companhia de seus irmãos, já havia experimentado a morte e as partidas; do Brasil caótico do Rio para as terras humildes do sertão nordestino; e nas mais humildes histórias que costuram o Brasil, resguardam a vida e criam ausências e saudades.
Victor Tanaka | Em 29 de Outubro de 2019. -
Apesar da completa falta de sentido do roteiro, que não pé nem cabeça, fico feliz com o fato de os realizadores ainda reconhecerem que o personagem não assusta mais, e fazer um filme completamente preso ao terror, sem brincar o nonsense e com o humor, daria origem a um fracasso anunciado. Portanto, para além da ausência de lógica e de uma matéria realmente assustadora, consegue divertir ligeiramente, jogando com a tecnologia e com o caos descomprometido que vai sendo construído até o fim.
Victor Tanaka | Em 15 de Setembro de 2019. -
O tom teatral e o humor delicado tornam este um filme de personagem interessante, ainda que mais longo do que deveria. Felizmente, por concentrar-se inteiramente ao redor dos sentimentos, dos desejos e das diferentes fases da vida de Arnold Beckoff, dá bastante espaço para Harvey Fierstein fazer piadas e caretas, conversar com a plateia e esbanjar carisma, doçura e excentricidade.
Victor Tanaka | Em 15 de Setembro de 2019. -
A narração, dividida em capítulos e repleta de comentários cômicos de Emma Stone, conduz e reforça a dinâmica cheia de personalidade do filme: a presença predominante de diálogos rápidos, ostentação de ironia, o exagero, as críticas ao moralismo e a relação assimétrica de causa e consequência, que orienta a narrativa a acontecimentos que beiram o catastrófico, dentro dos limites habituais para um produto do gênero.
Victor Tanaka | Em 15 de Setembro de 2019. -
Mendonça Filho e Dornelles conduzem uma narrativa em que os maniqueísmos funcionam, visto que se adequam à suspensão da realidade e à potencialização grotesca das mazelas sociais e políticas propostas. Além disso, é retomada a perspectiva diacrônica da formação do nordeste tecida em O Som ao Redor: a aptidão ao combate e ao enfrentamento está ostensivamente enraizada e manifesta por meio de diversos sinais, tanto na paisagem e na história quanto nos personagens durante o catártico clímax.
Victor Tanaka | Em 15 de Setembro de 2019.