Lupas (330)
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Com muita poesia e uma economia admirável de atos, cenários, personagens e falas, Kim Ki-Duk sintetiza uma vida em choque com os valores do mundo vulgar, que nunca chega a aparecer na tela, mas permeia todas as tensões da narrativa. E é por esse choque em constante progressão que a narrativa assume tons cada vez mais impactantes, desenrolando-se de um modo que, aparentemente, estamos sempre aptos a adivinhar, não por incompetência do texto, mas por conhecermos demais a dinâmica do nosso mundo.
Victor Tanaka | Em 18 de Dezembro de 2020. -
Mais do que apresentar impossibilidades de comunicação que aproximam e afastam os personagens, a rede de relacionamentos traçada nesse filme incomoda. Conforme o enredo se desenvolve, os protagonistas partem em uma busca que visivelmente não desejam concluir, revelando também serem parte desse ciclo de desconfiança, decepção e desejo que nunca parece terminar, estando sempre em recomeço. Há ainda os cenários espetaculares, para os quais o silêncio e a vagareza da narrativa arrastam o espectador.
Victor Tanaka | Em 01 de Dezembro de 2020. -
Um exercício gratuito de criatividade e fantasia para deixar os espectadores com vontade de ver mais. O visual é lindo, contrastando tons de azul e dourado que massageiam os olhos; a decisão de calar os personagens, permitindo-lhes somente grunhidos, diverte e ajuda a manter o foco na poesia dos movimentos; por fim, a ideia de dar à lua o toque fabular que justifica o curta é um presente para nosso imaginário.
Victor Tanaka | Em 01 de Dezembro de 2020. -
Que coisa mais sem-graça!
Victor Tanaka | Em 01 de Dezembro de 2020. -
Personagens fofos que, de dentro de sua solidão, subvertem os papéis aos quais estão naturalmente destinados: uma história extremamente simples e com pouco tempo para conquistar o espectador. Portanto, o curta lança mão de alguns artifícios já conhecidos para isso (violência do dono, enganos que os afastam, acidentes que os unem, etc.). Vale a pena ver tudo isso em um tempo tão curto e com um traço tão agradável (a concepção visual do gato, minúsculo e de olhos gigantes, é muito boa).
Victor Tanaka | Em 01 de Dezembro de 2020. -
A ideia é fenomenal, e a inclusão do gênero musical é não menos que genial: dela decorrem números musicais completamente avessos pois não empolgam e não enchem os olhos, mas exageram o traço grotesco da narrativa. Esse e outros artifícios suspendem o filme da realidade para tratar ainda de temas sociais, que perseguem o ser humano até depois da morte. Infelizmente, o desfecho não leva a narrativa a lugar nenhum, somente a uma conclusão explicitamente reflexiva a esta crônica sobre vida e morte.
Victor Tanaka | Em 10 de Novembro de 2020. -
Não sei se tem muito a dizer além de nos apresentar a própria narrativa em formato alucinante, mas é um competente exercício de construção fílmica por meio de cortes, dados e panes. A narração recheada de reflexões matemáticas entrega de antemão uma subjetividade processada pelo seu próprio objeto de estudo, e me fez terminar o filme com a impressão de que meu QI tinha aumentado muito. Ponto positivo também para a duração enxugada, que, mais longa, incorreria em uma experiência desgastante.
Victor Tanaka | Em 10 de Novembro de 2020. -
Filme de horror por excelência, o clássico moderno de Ari Aster evoca tudo o que existe de mais sombrio em histórias demoníacas (culto, espíritos, possessão, maldição, heranças malditas, ouija) e insere em um filme de tensão intocável, reviravoltas impactantes e entrega admirável de Toni Collette, cuja última aparição é daquelas imagens de guardar na memória. O que reforça esse espanto, para além dos sustos, é o desenrolar grotesco e trágico da narrativa, sem promessa de alívio.
Victor Tanaka | Em 10 de Novembro de 2020. -
A inclusão de uma coprotagonista, em vez de seguir a batida fórmula "filha-fazendo-pai-amadurecer", subverte tudo o que se espera desse tipo de trama - e que é justamente o que se espera de Sacha Baron Cohen: a ótima Maria Bakalova consegue estrategicamente se infiltrar onde o protagonista já é carta marcada e protagonizar loucuras igualmente engraçadas. Como resultado, revela-se um filme de denúncia, documentando tudo o que, no momento imediato, piora a sempre podre sociedade norte-americana.
Victor Tanaka | Em 10 de Novembro de 2020. -
É preciso ter paciência diante de um filme tão denso e entrecortado por reflexões existenciais e políticas que nem sempre vêm em melhor momento. Junto das tortuosidades da existência trazidas ao discurso, impacta ainda a concepção visual aos arredores da Zona, monocromática, nebulosa e cheia de grades, diretamente oposta à liberdade colorida, triste e solitária de seu território - dualidade que reflete refinadas críticas a sistemas econômicos e sublinha a desilusão à qual nos condicionam.
Victor Tanaka | Em 25 de Outubro de 2020. -
Destaca-se aqui, acima de tudo, o delicioso cinismo de Dick Bogarde, cujas expressões tão bem trabalhadas escondem camadas de perigo. Sua construção é quase tão rica quanto a própria atmosfera marcada por ângulos de câmeras que valorizam sombras e reflexos. Sarah Miles, por sua vez, traz uma ameaçadora sensualidade, cujo ápice se exerce na cozinha escura, quando James Fox, em uma batalha visual sufocante com Miles, ignora o telefone, entregando silenciosamente ao espectador o início do colapso.
Victor Tanaka | Em 25 de Outubro de 2020. -
Enigmático e obscuro na medida certa, o curta deixa certo incômodo ao longo de sua execução e, com o desfecho abrupto, um sentimento de solidão e incapacidade de interrompimento de ciclos. Não sei se tem muito mais para dizer além daquilo que sua superfície sugere, mas que é uma experiência interessante para uma duração tão curta, isso é inegável.
Victor Tanaka | Em 19 de Setembro de 2020.