Lupas (330)
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Há tanto para se falar de um filme que, em pouco tempo, metaforiza com estranhamento e morbidez a instabilidade das relações humanas, que vou retirar a principal reflexões que tive para cada segmento: somos resultado dos dejetos comunicativos dos que vieram antes; se fundir ao outro é parte do processo de se rematerializar; mesmo com as coisas certas para dizer, incorremos constantemente no ato de dizer na hora errada, originando um embate sem certo ou errado em direção ao esgotamento.
Victor Tanaka | Em 19 de Setembro de 2020. -
Taika Waititi e Jemaine Clement somam seu humor escrachado a uma coletânea admirável de referências ao universo dos vampiros, incorporando inclusive personagens de diversas outras obras, para criar um falso documentário propositalmente ridículo, de efeitos visuais FELIZMENTE precários. Não vejo muito o que avaliar em um filme desse, restando-me me deixar levar pelas situações criativas e personagens bastante particulares. Os três atores principais são engraçados à sua maneira.
Victor Tanaka | Em 19 de Setembro de 2020. -
Quatro mulheres substancialmente diferentes, defendidas com competência pelas quatro ótimas atrizes, dividem o mesmo local de trabalho e segredos, mas ao fim do expediente, a efervescência e as diversas possibilidades que se projetam naquela moderna Paris colocam cada uma em sua própria forma de exercer a vida. Em oposição, as figuras dos homens evocam morte, privação e asfixia. Para além disso, é um filme gostoso de acompanhar, com personagens agradáveis e espaços de atmosferas charmosas.
Victor Tanaka | Em 24 de Agosto de 2020. -
Uma narrativa que, lentamente, se tece em volta de um ato de violência, mas nunca traz a violência em si para o primeiro plano. Embora um clima de mistério passe a orientar os atos dos protagonistas, o destaque não recai sobre grandes revelações ou vinganças concretizadas, mas sobre a busca em si, as histórias interditas que nunca chegam à superfície e os problemas sociais (a impossibilidade da mulher de se dirigir à polícia, os julgamentos que cruzam a figura ausente da antiga moradora etc.).
Victor Tanaka | Em 24 de Agosto de 2020. -
É com base no equilíbrio entre graça e drama, esperança e desespero que esse filme se constrói de forma curta, simples e altamente charmosa. O visual é lindo (ótimo uso estético dos atores em relação ao ambiente, por exemplo, diante das fumaças dos trens que escondem os corpos, das janelas por onde se espia quem chega, das portas fechadas que sugerem segredos) e o protagonista é construído com delicadeza em meio à sua comovente história de amadurecimento e superação de aflições sexuais.
Victor Tanaka | Em 27 de Julho de 2020. -
A proposta do filme é estabelecer entre os personagens relações controversas, que perpassam tanto a ordem da rivalidade quanto da empatia. Entretanto, essas relações foram tão pouco aprofundadas que não é possível se conectar com nenhum personagem, nem se emocionar muito com os momentos de maior densidade emocional. Apesar disso, destaco os enquadramentos expressivos, a trilha sonora inesquecível, o final tocante e as grandes atuações de David Bowie, Takeshi Kitano e Ryuichi Sakamoto.
Victor Tanaka | Em 27 de Julho de 2020. -
O que mais chama a atenção aqui, para além do ritmo frenético e incansável proporcionado por Edgar Wright, é o uso inteligente da música como componente central da narrativa e elemento de sua composição formal: o ritmo e a trilha sonora, muito bem escolhida, se integram como um só, e tudo que vem junto está subjugado a essa união. Assim se reforça a visão do espectador como a visão do protagonista e, assim, prover essa submersão no submundo pop do crime que ele propõe.
Victor Tanaka | Em 22 de Julho de 2020. -
Um filme agradável, por ser uma típica narrativa sobre laços estabelecidos para além de barreiras culturais e pessoas se reconhecendo uma na outra; e estranho, pois o comportamento excêntrico dos personagens dá origem a cenas espalhafatosas, escandalosas, que nos fazem duvidar se pode haver harmonia ali. Isso também se observa na intercalação entre imagens claustrofóbicas, escuras e sujas dos interiores com a fotografia amarelada belíssima que predomina no ambiente externo e reforça a solidão.
Victor Tanaka | Em 22 de Julho de 2020. -
Como costumam ocorrer na obra de Miyazaki, a aventura e a magia se articulam a um contexto maior, no qual valores e acontecimentos de dimensão política guiam o destino dos personagens. Aqui, apesar de um filme bem divertido, que equilibra bem a ação e a graça, o pano de fundo é tratado de forma mais superficial (concordo com quem afirma que a metáfora em torno da figura porco podia ser bem melhor explorada). Ainda assim, vale como um bom exercício imaginativo, como se podia esperar.
Victor Tanaka | Em 22 de Julho de 2020. -
Não há muita profundidade na sequência de loucuras propostas por Milos Forman, mas é um filme que, certamente, diverte com pouco: cenários e ambientes restritos, cenas longas, personagens-tipos que não se aprofundam etc. A crítica política está latente no comportamento dos personagens e em suas relações, que se revelam contraditórias e irônicas, ao passo que leves reflexões satíricas sobre a autoridade são tecidas.
Victor Tanaka | Em 13 de Julho de 2020. -
Há muita classe neste adorável trabalho de Todd Haynes, que conduz um drama à moda antiga sem que ele pareça datado, artificial ou deslocado de seu tempo. O visual lindíssimo, junto à trilha sonora expressiva, presta uma grande homenagem ao cinema clássico, embora o tema seja irremediavelmente atual: um casal que segura sua família até onde pode, enquanto suas disposições internas tendem a seguir por caminhos socialmente polêmicos. Juliane Moore está divina.
Victor Tanaka | Em 13 de Julho de 2020. -
De fato, o que há a ser admirado aqui não é o roteiro, que entrega uma narrativa bem simples, episódica, mas propõe uma suspensão na lógica e no realismo, típica de grandes musicais, para que o potencial criativo seja gasto com a forma: imagens e cenários belíssimo, uso ousado de cores e luzes, e uma trilha sonora nada menos que charmosa. Não chega muito longe, pois os recursos logo se esgotam, mas a dimensão contemplativa faz o filme valer a pena.
Victor Tanaka | Em 06 de Julho de 2020.