Lupas (330)
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Sam Mendes retoma o tema da guerra e limita o alcance de seu escopo narrativo para tratar da saga individual de um soldado contra o tempo. Por duas horas, o espectador é forçado a percorrer trincheiras, escombros e abrigos devastados, o que se dá por meio de um fantástico trabalho de câmera, que persegue o protagonista de forma instigante e contínua. No meio disso, cenas catárticas de absoluta beleza ajudam a elevar a obra, que se termina se destacando dentre os filmes recentes do gênero.
Victor Tanaka | Em 10 de Fevereiro de 2020. -
A falta de substância e profundidade do enredo se explica pela matéria real na qual o filme se baseia, que também não é tão interessante e, portanto, não o justifica. Torna-se mais relevante quando, ainda que de forma maniqueísta, se propõe a reconstituir os pensamentos que norteavam a ação dos grandes fabricantes, o que inevitavelmente ajudou a moldar vários aspectos do mercado e da indústria modernos. De resto, se sobressaem ainda os aspectos técnicos e a ótima escolha da trilha sonora.
Victor Tanaka | Em 07 de Fevereiro de 2020. -
Kléber Mendonça Filho busca em uma narrativa russa o ponto de partida para criar seu curto e sofisticado horror. Com um domínio admirável de técnicas fotográficas e edição, que ajudam a contar a história e estabelecer a atmosfera (o timing das imagens é perfeito), consegue, em menos de vinte minutos, desenvolver uma narrativa grotesca, profunda e que faz pensar sobre o amadurecimento, as consequências das ações e da liberdade, a morte metafórica dos pais e as aflições passadas a cada geração.
Victor Tanaka | Em 26 de Janeiro de 2020. -
Com classe e nenhuma pressa, Altman imerge o espectador no cenário de desconfiança, segredos e frustrações que pautam as relações da classe alta britânica; e na correria que move os espaços da criadagem, no qual valores próprios convivem com condutas adaptadas dos patrões. Em meio a isso, um assassinato impulsiona a trama, em um desenrolar distante de uma história convencional de investigação. Ainda assim, o grande número de personagens dificulta que todos possam ser suficientemente apreciados.
Victor Tanaka | Em 25 de Janeiro de 2020. -
Ao optar por uma abordagem engraçada e colorida de um tema tão sombrio, Taika Waititi reconfigura pontos de vista e papéis sociais sem nunca deixar o horror desaparecer de vista. Consegue-se, assim, equilibrar caricatura, sarcasmo, beleza e denúncia, reconfigurando a dinâmica de controle do pensamento totalitário e como ele se infiltra de forma profunda e incisiva na cabeça de seus adeptos. Os momentos finais são muito comoventes e Scarlett Johansson está, mais uma vez, encantadora.
Victor Tanaka | Em 25 de Janeiro de 2020. -
Parece que o tema da máfia nos Estados Unidos pode ser retomado quantas vezes for necessário sem nunca ser plenamente esgotado. Dessa vez, com uma nova ótica, que conduz a um lindo e doloroso desfecho, Scorsese cria um épico moderno que, mais do que em ações, foca nos laços de lealdade que se traçam entre aqueles homens, e dá espaço suficiente para que um Al Pacino explosivo, Joe Pesci transbordando classe e Robert De Niro em constante construção brilhem através da longa duração do filme.
Victor Tanaka | Em 05 de Janeiro de 2020. -
Como nos último trabalhos, Burton nem ao menos tenta imitar sua já conhecida e desgastada marca, adotando um conjunto de mecanismos sem qualquer identidade. Além disso, é triste observar como é quase mandatório, inclusive para narrativas como Dumbo, com uma essência mais pautada no drama, em torno do isolamento e da autodescoberta, do que na aventura, ter de se prolongar até um clímax forçado, que privilegia os lugares-comuns em detrimento da carisma e individualidade do protagonista.
Victor Tanaka | Em 05 de Janeiro de 2020. -
Nesta nova versão, os números musicais estão bem mais bagunçados, e os personagens não apresentam o mesmo carisma ou expressividade. Por outro lado, o charme generalizado da obra ainda se mantém, e os novos números musicais, que fogem à mencionada comparação, são bons e adequadamente inseridos (uma canção solo para a Fera é a cereja do bolo: o momento em que a humanidade daquele personagem se escancara como nunca para o público).
Victor Tanaka | Em 05 de Janeiro de 2020. -
A fórmula básica de Tarantino, aqui, é a mesma, mas com nuances. Destaca-se, porém, um cuidado maior, e às vezes meio cansativo, com a submersão dos personagens no meio: a articulação de referências, as longas e frequentes ambientações e a recriação de figuras reais, mesmo quando não importantes para o desenvolvimento da narrativa. O grande trunfo vem ainda da quebra da expectativa em torno da figura de Sharon Tate, conduzindo o espectador a um patamar surpreendente, bonito e muito original.
Victor Tanaka | Em 30 de Dezembro de 2019. -
Tudo que existe de aproveitável no filme - as canções e alguns números musicais - só funciona por já ter sido idealizado antes, e certamente deve ser melhor aproveitado nos palcos. Por consequência, praticamente tudo que foi criado sobre a linguagem cinematográfica é falho, incompleto ou insosso. A concepção visual não é de todo ruim: me agrada o colorido por vezes delirante e a cafonice excessiva do cenário; mas aquilo que está no primeiro plano é sempre descuidado e pobre.
Victor Tanaka | Em 30 de Dezembro de 2019. -
Eggers novamente constrói um encadeamento de horror que nunca sai do opaco, condenado a uma camada mais profunda da narrativa e da compreensão. Abraçando símbolos e referências densos, de forma que nem tudo fica claro no final (e nem deve, principalmente se pensarmos que a busca por revelar o que está oculto é um dos grandes monstros do filme), somente a relação muito bem articulada entre os protagonistas e a ambientação pesadamente tenebrosa já tornariam a experiência, por si só, admirável.
Victor Tanaka | Em 30 de Dezembro de 2019. -
Entre a primeira e a última cena embaladas pela mesma música-tema ao piano, muita coisa acontece. Na cena final, entretanto, as notas mais pesadas e o olhar perdido e desolado de Charles Aznavour conferem a ela outra significação, sustentada ainda por mortes, revelações ao espectador e pensamentos que incessantemente atormentam o protagonista. Em meio a tanto, a camada narrativa da perseguição é o que menos empolga.
Victor Tanaka | Em 25 de Dezembro de 2019.