Lupas (330)
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A narrativa nos presenteia com um bom mergulho dentro das problemáticas relações de poder e violência envolvendo a polícia e a população negra dos Estados Unidos, além da reflexão sobre o papel e a dimensão do ato revolucionário na sociedade. Tem problemas de ritmo, o que torna sua exibição mais longa do que deveria. Os grandes destaques ficam para Daniela Kaluuya, que incorpora autoridadde e acolhimento, e Lakeith Stanfield, que imprime em sue olhar toda a dor de estar em um fogo-cruzado.
Victor Tanaka | Em 11 de Abril de 2021. -
A abordagem para o tema é muito original: a estrutura labiríntica, típica de filmes de suspense, dá ao filme a forma do personagem. Tudo contribui para que nos sintamos como ele: cenas que se repetem, atores trocados, flashbacks em forma de tempo presente, saltos temporais etc. Todos os elementos que surgem vão tecendo a realidade em doses homeopáticas. No meio de tudo isso, temos uma Olívia Colman que nunca sai do estado de alerta, enquanto Anthony Hopkins dá um show de realismo.
Victor Tanaka | Em 05 de Abril de 2021. -
Um filme com esse visual nem precisa de um roteiro mais concreto, pois a experiência estética já satisfaz. É mágica a forma como as formas e os sons, em nome do caos, se desmancham, se reconfiguram, se metamorfoseiam. A cidade adquire para a inquieta personagem um aspecto metafísico, bagunçado, bem como sua relação com os outros seres humanos, assustadores ou inalcançáveis. O texto em si é minimalista e não revela nada realmente. Não se permite total compreensão em qualquer dos níveis do curta.
Victor Tanaka | Em 05 de Abril de 2021. -
É de fato uma obra que não esconde sua origem teatral: a economia de cenários e personagens, o excesso de diálogos e sua duração contribuem para que a narrativa seja quase composta por uma cena única, comprida, como um ato totalmente dedicado aos conflitos entre os personagens e à revelação de seus sonhos e traumas. Viola Davis constrói uma personagem forte, de armadura resistente, enquanto Chadwick Boseman ganha o filme com uma flexibilidade que acompanha as nuances psicológicas do personagem.
Victor Tanaka | Em 04 de Abril de 2021. -
As decisões narrativas de Emerald Fennell conduzem o filme a direções criativas, sendo impossível ter certeza do que realmente ocorrerá na próxima cena. Com isso, traça-se uma vingança que, em vez de seguir o sangue e a violência comuns nesse tipo de filme, poupa-o de conclusões genéricas e opta pelo desmascaramento do cidadão de bem, incorrendo ainda no espelhamento e no reconhecimento tardio do machismo velado pelos próprios personagens e, certamente, por muitos espectadores.
Victor Tanaka | Em 04 de Abril de 2021. -
O excesso de ingenuidade e a simplicidade do roteiro abrem espaço para um filme de formato bem tradicional: adolescentes no meio de conflitos adolescentes e trocando diálogos adolescentes. E justamente no cerne dessa inocência, que às vezes pincela formas de sexualidade, a narrativa funda um universo próprio: jovem, inocente, seguro, alternativo e gostoso de se acompanhar. Daniel Ribeiro expressa possibilidades cotidianas de forma doce pelo simples prazer de fabular. É um filme, afinal, bonito.
Victor Tanaka | Em 28 de Março de 2021. -
A degradação social, moral, física e psicológica das famílias escravocratas após a abolição é retomada para discutir as relações entre passado e presente. Entretanto, o discurso não fica explícito, sendo priorizada a experiência cinematográfica. Assim, a loucura e a desintegração das personagens, agarradas de forma ressentida a um tempo em dissolução, é contada por meio de uma narrativa lenta, atmosférica e mórbida, que flerta com o suspense psicológico. Texto forte e muito bem interpretado!
Victor Tanaka | Em 28 de Março de 2021. -
O roteiro em si não traz nada de novo, sendo possível prever tudo que vai acontecer em seguida. O que agrada é, como de costume em animações da Pixar, a abordagem: há um visível frescor de criatividade na condução das situações, na construção dos personagens (todos interessantíssimos, por sinal) e na forma como as relações entre eles vão se tecendo. Como consequência, temos uma sucessão de acontecimentos muito engraçados e bonitos. O final é de partir o coração, mas não poderia ser outro.
Victor Tanaka | Em 28 de Março de 2021. -
O retorno de personagens tão queridos não poderia ter sido mais desastrado. O filme é uma bagunça, mal escrito, mal dirigido e mal interpretado. Os atores viraram caricaturas de seus personagens do passado, deslocados em um roteiro sem sentido e munidos de piadas que não funcionam (Magda, por exemplo, se tornou uma personagem constrangedora de se acompanhar). O humor é de muito mal gosto, antiquado em relação aos tempos atuais e incompatível até mesmo com o humor da série original.
Victor Tanaka | Em 28 de Março de 2021. -
A arte e a loucura são levados a um extremo de beleza e horror nessa obra peculiar de Jodorowsky. Essa dupla face do sublime com o repulsivo, aliás, preenche todo o filme, seja pelo flerte entre personagens belamente caracterizados e com características constantemente disfuncionais, ou quando a poesia se eleva como resultado da dramaticidade e do grotesco. Há, para isso, uma articulação entre uma história de loucura, morte e dependência com o mundo do entretenimento, do circo, da música.
Victor Tanaka | Em 21 de Março de 2021. -
Ao contrário do triunfo de Menzel em "Trens Estreitamente Vigiados", aqui a opressão do regime encontra sua crítica principalmente no falatório, nos discursos explícitos para além da medida, o que cansa já nos primeiros minutos. Os momentos mais belos, por outro lado, são aqueles que expõem, em meio a tanta rigidez e autoritarismo, a fascinação pelo ser humano e a beleza do toque. No fim, fica a sensação de um filme interessante, com uma mensagem forte, mas que não tão bem aproveitado.
Victor Tanaka | Em 21 de Março de 2021. -
Muito se diz aqui com poucos cenários, atores e situações. Não há sossego na dimensão social nem na psicológica dos personagens, que, durante uma única cena, longa e angustiante, são desnudados por seus medos e assumem comportamentos intrigantes e controversos, de certa forma espelhando o sistema que os molda. Afinal, a força que age sobre eles está o tempo todo oculta, mas onipresente na forma de dispositivos de controle eletrônicos ou simbólicos que tornam o ar cada vez mais claustrofóbico.
Victor Tanaka | Em 14 de Março de 2021.