Lupas (330)
-
Aqui, Zhao propõe uma experiência de confinar o espectador junto à solidão/liberdade de Fern. Em nome da casualidade da vida, ela se concentra no dia a dia, na trivialidade das ações na esfera privada e profissional, além de enquadrar belas e vastas paisagens, por onde McDormand, em uma atuação magnífica, vagueia com um misto de tristeza, introspecção e vontade de conhecer. As relações de trabalho e a morte servem como moldura para pensar a perda e a possibilidade de uma nova existência.
Victor Tanaka | Em 28 de Fevereiro de 2021. -
Uma história certamente dolorida, mas cuja execução resultou aquém de seu potencial. A relação entre os dois personagens não cativa tanto quanto deveria e entrega poucos bons momentos, resguardando-os mais para o fim da narrativa. Vale muito mais a pena pelo prazer de ver Sophia Loren em cena e pelo interessante processo de amadurecimento do personagem principal.
Victor Tanaka | Em 28 de Fevereiro de 2021. -
Um filme de tribunal que, sob uma direção cheia de personalidade, se torna um instrumento de denúncia. Sorkin lida com uma matéria visivelmente densa, mas de forma dinâmica, menos engessada do que poderia ser. Ele acha rapidamente o equilíbrio entre rapidez, diálogos afiados e melodrama, para transmitir aos espectadores um sentimento ininterrupto de injustiça e impotência. Para isso, o filme demarca bem sua posição, vilanizando pessoas e delatando instituições, sem sutilezas, mas com coragem.
Victor Tanaka | Em 22 de Fevereiro de 2021. -
Tem seus equívocos, mas não deixar de ser narrativamente interessante: à frente da destruição desenfreada, há o desespero reiterado diante da perda e da morte, que entrega cenas mais melancólicas. Já a grandiosidade dos monstros, em cenas de batalha muito bem concebidas, descarta o heroísmo artificial dos humanos e sublinha a incapacidade das instituições diante de um conflito dessa magnitude. Por outro lado, alguns ótimos atores são subaproveitados e as cenas noturnas são escuras demais.
Victor Tanaka | Em 22 de Fevereiro de 2021. -
A escolha de Woody Allen pela Rússia funda um dos momentos de humor mais exagerado, insólito e visual de sua carreira, além de "personagens de vilarejo" bastante excêntricos, o que, talvez não coincidentemente, eram marcas das comédias dramáticas dos países vizinhos para retratar os traumas da guerra. Para coroar, temos Allen e Diane Keaton completamente sincronizados e um falatório filosófico habilmente caricato ("To love is to suffer" é uma das minhas citações favoritas do cinema).
Victor Tanaka | Em 18 de Fevereiro de 2021. -
As quatro irmãs apresentam, durante boa parte do tempo, um comportamento acentuadamente infantil, principalmente Hepburn, governada por uma espécie de síndrome de Peter Pan que exige uma atuação melindrosa e exaltada. Essa abordagem permite que se observe nela o maior nível de amadurecimento, até alcançar o tom charmoso de sua interpretação dos momentos finais do filme. Não fosse tanta ingenuidade, o clima açucarado poderia eternizá-lo como um dos acalentadores "filmes de Natal" da época.
Victor Tanaka | Em 17 de Fevereiro de 2021. -
A distância temporal que separa esse filme do original permite que o enredo ouse com cenas de ação eletrizantes, um visual grandioso para a criatura e sequências de perseguição certamente influenciadas por Jurassic Park. Por outro lado, as reflexões coletivas em torno da ciência perdem espaço para conflitos privados de personagens desinteressantes e de atitudes inconsistentes. Relevando isso e os furos no roteiro, resta ainda um um punhado de momentos divertidos, trash, suspensos da realidade.
Victor Tanaka | Em 16 de Fevereiro de 2021. -
É um filme coeso e com um ritmo adequado. O suspense se desenvolve de forma natural, mesmo depois da primeira aparição de um Godzilla visivelmente datado para os dias de hoje. O que chama a atenção, entretanto, é a rede de aflições e interesses que cruzam os próprios humanos. A visão antidestrutiva dos cientistas coloca em pauta a dupla face da ciência enquanto instituição provedora da vida e da morte. Destaque para a trilha sonora, que se mostra cheia de personalidade já nos créditos iniciais.
Victor Tanaka | Em 13 de Fevereiro de 2021. -
Um musical agridoce, que nunca perde de vista as tensões sociais e econômicas de sua época, colocando o dinheiro como a entidade que pauta as relações. Os poucos números musicais são criativos e belissimamente filmados, recorrendo a concepções estéticas fortes e de muito bom gosto. No nível narrativo, temos uma comédia romântica que, apesar dos excessos, apresenta diálogos ágeis, que mantêm o ritmo, e deixa Blondell, Keeler e McMahon brilharem, altamente divertidas e em completa sintonia.
Victor Tanaka | Em 01 de Fevereiro de 2021. -
A velocidade da narrativa é a única forma de tratar de tanto conteúdo em uma duração de duas horas, sem que nada pareça explorado de menos. Tudo a que se propõe está lá: a cidade caótica e futurista, os grupos de rebeldes, a rivalidade entre gangues, motos superequipadas, a tecnologia saindo do controle, a tensão dela com o poder, enfim, tudo o que ajudou a fixar as bases do gênero cyberpunk. Talvez o clímax tenha ficado longo demais, a ponto de não haver mais para onde levar tanta destruição.
Victor Tanaka | Em 28 de Janeiro de 2021. -
Apesar do ritmo ágil e da estrutura não-linear, que tornam o filme um clímax contínuo, o resultado parece não fazer muito sentido. As soluções extremamente fáceis e as mudanças inconsistentes dos personagens não são convincentes nem para públicos menos exigentes. Pelo menos é curto e sabe onde parar. Isso evita a inserção de dramas adolescentes mais prolongados e pouco profundos onde não caberia.
Victor Tanaka | Em 28 de Janeiro de 2021. -
Aqui, é o narrador, cheio de charme e personalidade, que molda e torna a história tão atraente, tão cheia de classe e de ritmo ágil. Mas apesar do carisma de Dennis Price, quem rouba a cena é Alec Guiness, em sua espetacular e versátil manipulação de oito personagens tão distintos, mas com traços de semelhança, como parte da mesma unidade passível de destruição que eles representam para o ponto de vista do narrador - o nosso ponto de vista.
Victor Tanaka | Em 28 de Janeiro de 2021.