Lupas (330)
-
A proposta é original, mas muito mal executada, resultando em uma espécie de viagem que não deu certo - afinal, o filme todo se estica em uma excursão interminável dentro da mente curiosa e psicodélica de José Mojica Marins, deixando de entregar um enredo consistente e, por outro lado, não podendo ser aproveitado como experiência contemplativa, pois o visual é justificadamente feio. Somado a isso, sempre retorna a figura planificada de Zé do Caixão com mensagens metafísicas fora do tom.
Victor Tanaka | Em 28 de Janeiro de 2021. -
Aqui, a desintegração da família vem com a morbidez necessária para provocar o espectador e resumir a vida a um peso. Entre as deficiências manifestas e os transtornos ocultos, acompanhamos a trajetória de personagens estranhos e silenciosos demais para deixar escapar o que realmente nutrem pelo resto do seio familiar. Tudo o que sabemos, ao longo da sequência bem filmada de perversidades, é que a narrativa não abre espaços para o perdão.
Victor Tanaka | Em 22 de Janeiro de 2021. -
A genialidade de Buñuel começa na ideia originalíssima (a evasão dos empregados e o isolamento dos patrões funciona pelo estranhamento de vê-los presos a nada, a não ser a seus próprios papéis sociais) e se potencializa na sequência de situações absurdas que exalam criatividade e crescem às últimas consequências. Embora os comportamentos selvagens e animalizados dos personagens tenham teor universal, os diálogos expõem crueldades que só poderiam ser ditas pela elite, inclusive hoje.
Victor Tanaka | Em 03 de Janeiro de 2021. -
É um filme que exala solidão, e esse é o cenário perfeito para que as imagens sejam exploradas junto ao silêncio. Os enquadramentos que resultam disso são lindos. O conflito narrativo se manifesta pelo cruzamento da personagem principal, alimentada pela fantasia do cinema, com a realidade. Não dá para saber o que acontece fora do ambiente em que eles estão, e os poucos sinais da realidade externa que nos chegam são filtrados por seus olhos imaginativos. Talvez isso baste - a fantasia por si só.
Victor Tanaka | Em 03 de Janeiro de 2021. -
Tudo gira em torno de Fábio Porchat. Seu texto é engraçado e inteligente; seu personagem não poderia casar melhor com a proposta e, obviamente, destila as mais afiadas críticas; as músicas dão o toque final para deixar tudo ainda mais absurdo e - por que não? - genial. Em algum momento, começa a cansar, e a ideia do paternalismo que sustenta a canção final não foi a solução mais divertida para se aproximar do fim. O resultado, entretanto, é bastante positivo, e merece uma posição de destaque.
Victor Tanaka | Em 28 de Dezembro de 2020. -
Um triunfo por diversos motivos que todo mundo já sabe: lançou a figura do zumbi da forma como conhecemos hoje (aqui, sem efeitos de computador para tornar as exagerar a morbidez dos zumbis, o mérito fica para a caracterização e performance dos atores), oferece momentos realmente tensos (a filmagem em preto-e-branco e a câmera inquieta acabaram contribuindo) e discutiu relações raciais e de poder de forma consistente e ainda atual: a cena final, da forma como foi exposta, é o verdadeiro terror.
Victor Tanaka | Em 28 de Dezembro de 2020. -
Tudo acontece de forma rápida, o que deixa claro de antemão que a prioridade será dada à sequência de acontecimentos, e não à construção da atmosfera. Com isso, a narrativa mobiliza vários recursos já conhecidos do terror comercial (jump scares, desenhos mórbidos, espíritos em câmeras, epifania do protagonista) sem nunca aparecer com algo realmente só seu. A cena da mãe olhando em cima e embaixo da cama é um dos raros ótimos momentos em que o silêncio é utilizado em favor da tensão.
Victor Tanaka | Em 28 de Dezembro de 2020. -
Seguindo a mesma linha de Divertida Mente ao sintetizar conceitos existenciais e abstratos em um mundo redondinho paralelo ao nosso, a Pixar mostra mais uma vez que consegue reaproveitar fórmulas antigas com inteligência e elegância. Além disso, o visual é lindamente concebido (não deve ser fácil adaptar instâncias de vida e morte de forma tão madura e lúdica) e a música é de extremo bom gosto. Não chega perto da exuberância narrativa típica da Pixar, mas o resultado é divertido e reflexivo.
Victor Tanaka | Em 28 de Dezembro de 2020. -
Emir Kusturica prova aqui que é uma das vozes mais poderosas do cinema mundial: Underground é um raio-X definitivo de povos que, por trás da música e dos aparentes excessos, carregam uma história dolorosa e parecem só se encontrar por completo na festa ou na guerra - aqui, esses dois polos coexistem quase sempre, como uma coisa só. Sem nunca perder o ritmo em suas três horas, Kusturica ontar uma saga que atravessa décadas e termina na desintegração literal de uma sociedade.
Victor Tanaka | Em 22 de Dezembro de 2020. -
Para se aprofundar nas relações dos que vivem à margem da sociedade, Kim Ki-Duk abdica de qualquer sensibilidade: todas as ações são codificadas em violências físicas e psicológicas. São o sofrimento e o desprezo que unem e fabricam personagens tão consumidos pela revolta. Entretanto, a inserção e a permanência forçadas e passivas da personagem feminina não convencem e, por consequência, incomodam do jeito errado. Isso compromete a sequência seguinte de violências episódicas e não tão profundas.
Victor Tanaka | Em 22 de Dezembro de 2020. -
Não vou dizer nada de realmente novo. É um filme que, sem muito esforço, consegue imprimir já no início sua marca de "filme estranho". Na maior parte do tempo, cumpre seu propósito de, com situações insólitas e soluções criativas, sustentar a ideia central sem perder a mão. É perto do fim que ele decai, com a inserção de determinadas sequências fora do tom (quem assistiu, vai identificar imediatamente) que não se justificam do ponto de vista narrativo nem lógico. Pareceu-me uma escolha burra.
Victor Tanaka | Em 18 de Dezembro de 2020. -
A ideia é ótima e as referências, como é de se esperar do Porta dos Fundos, são afiadas - tanto as referências à nossa tragédia brasileira, quanto os detalhes bíblicos cuidadosamente posicionados nas caricaturas e falas dos personagens. Entretanto, o formato cansa rápido, e as piadas realmente engraçadas passam a se tornar pontuais.
Victor Tanaka | Em 18 de Dezembro de 2020.